VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

domingo, 22 de janeiro de 2017

ESTADOS UNIDOS PRIMEIRO



ZERO HORA 21 de janeiro de 2017 | N° 18748


TRUMP REAFIRMA "EUA PRIMEIRO"



Com um discurso marcado por um forte tom protecionista, o magnata do setor imobiliário Donald Trump prestou juramento ontem como o 45° presidente dos Estados Unidos e anunciou que todas as decisões de Washington serão orientadas a priorizar o país.

– A partir deste dia, uma nova visão governará nossa pátria. A partir deste dia, os Estados Unidos vêm primeiro – disse Trump em seu discurso de 20 minutos.

O altivo ex-astro de reality show sem qualquer experiência política assumiu as rédeas da primeira potência mundial das mãos do democrata Barack Obama.

Trump, que pretende deportar até 4 milhões de migrantes ilegais com ficha criminal e construir um muro nos 3,2 mil quilômetros de fronteira com o México, também enumerou em seu discurso “duas regras simples: compre (produtos) americanos e empregue (funcionários) americanos”. Foi aplaudido várias vezes por milhares de simpatizantes vindos de todo o país.

Antes e depois da cerimônia de posse, centenas de manifestantes anti-Trump entraram em confronto com a polícia no centro de Washington. Eles atiraram projéteis, quebraram vidraças e foram dispersados com bombas de gás lacrimogêneo.

– A cerimônia de hoje (sexta-feira) tem um significado muito especial porque não estamos meramente transferindo o poder de um governo a outro, de um partido a outro. Estamos transferindo o poder de Washington e devolvendo-o a vocês, o povo – disse o septuagenário Trump à multidão.

Ele lamentou que o país “enriqueça as indústrias estrangeiras” e “subsidie exércitos estrangeiros”.

– Defendemos as fronteiras de outros países, enquanto nos negamos a defender as nossas. Devemos proteger nossas fronteiras dos estragos de outros países que fabricam nossos produtos, roubam nossas empresas e destroem nossos empregos – acrescentou o presidente.

Na cerimônia de posse, celebrada nas escadarias em frente ao Capitólio, sede do Congresso americano, também prestou juramento mais cedo o novo vice-presidente, Mike Pence.

A vitória de Trump, que deixou o planeta atônito, está ancorada sobretudo nos votos de uma classe trabalhadora branca que desconfia dos políticos tradicionais e que sente que a globalização a prejudicou, transferindo empregos para outros países.

NA PÁGINA DO EXECUTIVO, AMEAÇA DE RETIRADA DO TPP E DO NAFTA


Em um documento publicado na página da Casa Branca na internet, Trump anunciou que retirará os Estados Unidos da Aliança Transpacífico (TPP, na sigla em inglês, formado por 12 países, como Chile, México e Peru, que respondem por 40% da economia mundial) e que foi assinado em fevereiro, mas ainda não foi ratificado. Também ameaçou abandonar o acordo de livre comércio com o México e o Canadá (Nafta). “Se nossos parceiros se recusarem a uma renegociação que ofereça aos americanos um tratamento justo, então o presidente comunicará a decisão dos Estados Unidos de se retirar do Nafta”, acrescentou o texto.

O México observa o bilionário nova- iorquino com inquietação. Suas políticas já lhe custaram milhões em investimentos empresariais não materializados e poderiam arrastar o país para uma recessão.

O gabinete de Trump é o mais branco e o mais rico em décadas. Tem um único negro e, pela primeira vez em quase 30 anos, nenhum hispânico, o que lhe rendeu fortes críticas da principal minoria do país, com mais de 55 milhões de pessoas (17% da população). A ausência de hispânicos no gabinete não é surpreendente para um presidente que promete tomar medidas duras contra a minoria.

Trump também poderia voltar atrás na aproximação com Havana, impulsionada por Obama, e tudo indica que será mais agressivo com a Venezuela.

Milhares de pessoas se manifestaram pacificamente, mas também houve protestos violentos e confrontos com a polícia. Pouco antes, dezenas de manifestantes, muitos encapuzados e vestidos de preto, atiraram pedras, quebraram vitrines de várias lojas, incluindo uma cafeteria Starbucks, uma agência do Bank of America e uma limusine. “Não às deportações, não à Ku Klux Klan, não aos Estados Unidos fascistas!”, repetiam. EM TOM FORTEMENTE PROTECIONISTA, o 45º presidente americano tomou posse com a promessa de transferir o poder de Washington para vocês, o povo e de empregos

Washington


+ ECONOMIA | Marta Sfredo

RISCO TRUMP OUTRA VEZ EM ELEVAÇÃO

Pelas reações dos mercados, ainda havia muitos otimistas. Desde a surpreendente eleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, mantinha-se a interrogação: quem assumiria a Casa Branca seria o mesmo candidato de frases abertamente xenófobas, manifestamente protecionistas? Em seu discurso da posse, ele fez questão de responder que sim.

Se o primeiro discurso após a vitória havia reforçado a esperança de quem esperava o arquivamento das teses agressivas, o da posse reavivou os temores de quem vê no poder um Trump igual ao que percorreu os EUA com suas palavras segregadoras. Durante a fala, houve deslizes em todos os principais índices de bolsas de valores do planeta. Os de Nova York, que andavam animados com as perspectivas de estímulo à economia, não caíram, mas encurtaram os ganhos.

Como o pronunciamento foi pesado no tom mas não trouxe medidas concretas, o desânimo foi temporário. O que se projeta para os próximos dias – há expectativa de medidas de curto prazo, especialmente para mudar deliberações do governo Obama –, é muita volatilidade: altas se não houver novidade, baixas acompanhando “trumpices”. É provável que seu primeiro alvo, como ele tem avisado, seja o programa de saúde apelidado de Obamacare. Mas estão na economia alguma das principais preocupações e, portanto, ações do novo presidente.

Para poupar os leitores apenas de adjetivos autorais, a coluna recolheu algumas reações, no Twitter – para se beneficiar da concisão –, de economistas, historiadores e filósofos que escolheram viver nos EUA, assim como o avô alemão de Trump há mais de um século. Nouriel Roubini, espécie de fruto da globalização, com origens israelense, iraniana, turca e italiana, que se tornou famoso ao “prever” a crise de 2008, caracterizou assim: “raivoso, populista, nacionalista, unilateralista, depressivo, insultante, mau, sem meios-tons, intolerante, arrogante”. O filósofo descendente de japoneses Francis Fukuyama, considerado ideólogo do governo Reagan e autor da tese do “fim da história” – o que incluía a vitória final do capitalismo liberal: Trump só falou para um fatia específica dos EUA, não para todos nós”.

Uma das frases de Trump mais espantosas – não por acaso, virou manchete do site do The New York Times – foi “this american carnage stops right here” (essa carnificina americana para aqui). Jornalistas americanos compararam a frase com a famosa citação de John Kennedy “não pergunte o que a América pode fazer por você, pergunte o que você pode fazer pela América”, que se tornou um clássico. Não houve trechos edificantes no pronunciamento. Apenas uma coleção de ameaças, bravatas e palavras duras. Não foi à toa que colheu protestos violentos nas ruas. O risco Trump voltou a subir.


MAL DONALD TRUMP CHEGOU AO SALÃO OVAL, MANDOU MUDAR O SITE DA CASA BRANCA. SUMIRAM DE LÁ, POR EXEMPLO, AS SEÇÕES DEDICADAS AOS DIREITOS LGBT E ÀS MEDIDAS PARA CONTENÇÃO DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS.

DEMAGOGIA

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ZERO HORA 21 de janeiro de 2017 | N° 18748. PROA


FRANCISCO MARSHALL


Na Guerra do Peloponeso, Tucídides distingue alegações apresentadas por Atenas e Esparta para iniciar o conflito e analisa suas causas reais. No plano diplomático, descreve a ambição imperial de Atenas e a contrariedade de Esparta, mas o melhor de suas análises está no plano interno de Atenas, quando examina os processos decisórios que levaram esta pólis à dupla catástrofe, guerra e derrota. Neste passo, o historiador age como sociólogo, antropólogo e cientista político, examinando como agem os homens em certas condições e o que podemos aprender para evitar erros no futuro. Admirador de Péricles, Tucídides induz o leitor a crer que foi a morte deste (no segundo ano da guerra que duraria 27 anos, de 431 a 404 a.C.) e o consequente triunfo da demagogia em Atenas a causa da derrocada. Analisa, então, o líder Cléon e sua relação com a massa (demos) na assembleia ateniense (a eclésia); é o primeiro estudo sobre a demagogia, apresentada em caráter negativo, como parte da insensatez que pode ameaçar a democracia. A palavra-chave é manipulação: o demagogo manipulando as massas, estas jogando com a ambição de poder do líder.

É este caráter negativo que predomina na cultura política contemporânea, em que demagogia e demagogo são adjetivos de ataque, sobretudo aos líderes populistas, de enorme expressão na América Latina do século XX. Ocorre que há, paradoxalmente, um aspecto positivo na demagogia clássica: a interpretação da vontade popular e a produção de políticas que a atendam. A demagogia pode ser uma forma de comunicação entre o povo e o poder, e permite que se amplie a legitimidade política e a realização de programas cujo beneficiário é o povo. Foi assim com a ação dos líderes populistas no Brasil, responsáveis por modernizações importantes, no rumo de uma sociedade burguesa com classe média proficiente, projeto ainda inconcluso.

Entre as figuras negativas da demagogia, estão o uso perdulário dos recursos públicos para adular o povo, a apresentação do líder vestido em imaginário heroico e a substituição da ação pela propaganda. O líder quer ser visto como providente, e comemora inaugurações e entregas de ambulâncias, mesmo que estas sejam a realização de sua obrigação. O demagogo não tem pudor de dizer que é o cara e que uma nova era se inicia, nem deixa de se apropriar de frases de efeito, mesmo que não as compreenda ou pratique. A desconexão entre ação e propaganda permite que um político hostil ao ambiente se apresente como campeão da sustentabilidade, que um promotor do atraso se diga homem do progresso, ou que pose de sambista faceiro quem trata da morte do samba.

Foi o poder da imprensa e da propaganda que produziu a mutação decisiva da demagogia na sociedade de massas, desde o início do século XX. Sem contato com o povo, o político (com o vilão marqueteiro) formula imagens e as justifica como populares. A dinâmica histórica fica opaca, sem fluxo e refluxo entre povo e lideranças, pois a vontade popular passa a ser tutelada, induzida por mensagens que levam o povo a apoiar candidatos, governantes e medidas que o prejudicam. Assim o povo torna-se refém de uma vontade exótica, e é conduzido a um destino alienado. Para piorar, cada vez mais as pesquisas de opinião balizam a política, intensificando o efeito da máquina de propaganda que hoje move opinião pública e poder. Bons tempos os da demagogia clássica, pois a demagogia atual, midiática, é mais uma fonte da crise política. E sobrevive a pergunta: o que é e como interpretar a vontade popular? Ainda existe povo no mundo atual?

ARQUEÓLOGO E PROFESSOR DA UFRGS