VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

sábado, 18 de junho de 2016

POLÍTICOS QUE ROUBAM



ZERO HORA 18 de junho de 2016 | N° 18559



GILBERTO SCHWARTSMANN*



No clássico do cinema italiano Ladrões de bicicleta (1948), de Vittorio De Sica, o desempregado Antonio Ricci consegue uma vaga de colador de cartazes. A exigência é ter bicicleta. Mas a sua é roubada. Ele tenta encontrá-la, com o auxílio do pequeno Bruno, seu filho, sem sucesso.

Desesperado, sem que o menino perceba, ele tenta roubar uma bicicleta. Mas é flagrado em pleno delito. Ao ver a cena, o pequeno Bruno entra em desespero. Por compaixão, a polícia o deixa ir embora. Mas não sem antes humilhá-lo.

Roubar nem sempre se deve a desvio de caráter. Pode ser fruto de um ato desesperado. E ainda que a pena seja, como no filme, o constrangimento público, exige punição exemplar. Esta regra é necessária à vida em sociedade.

Do batedor de carteiras ao ladrão de galinhas, do estelionatário ao larápio profissional ou o delinquente que mata para roubar, há bandidos para todos os gostos.

Há também doentes psiquiátricos que roubam por perda do juízo crítico. O cleptomaníaco rouba objetos que não possuem necessariamente valor. Na adolescência, há roubos transitórios por rebeldia. Álcool e droga são ingredientes facilitadores. E há o roubar dos doentes com transtorno de personalidade antissocial.

Penso que muitos ladrões da política brasileira representam variantes dessa condição patológica. À primeira vista, passam por chefes de família exemplares, com hábitos normais e até sucesso profissional. Mas, no fundo, são indivíduos perigosos, com vida dupla na delinquência.

Como os doentes psiquiátricos, eles não parecem moralmente afetados pelas consequências negativas de seus atos. Roubam sem demonstrar nenhum sentimento de culpa. E não exibem compaixão pelos que sofrem as consequências de seus atos.

Mesmo tendo acumulado riqueza suficiente para uma vida nababesca, algo os faz persistir, compulsivamente, na atividade delituosa. Pois têm a certeza da impunidade. E veem-se acima da lei e na crença, até há pouco verdadeira, de que, em nosso país, rico nunca vai para a cadeia.

Doentes ou simplesmente bandidos, não há a menor chance de que esses políticos possam ser resgatados moralmente. Tampouco imaginaria que sua incapacidade de sentir culpa pelos delitos praticados seja reversível. São incuráveis e reincidentes.

Resta à sociedade somente a alternativa de identificá-los e puni-los exemplarmente. E, sobretudo, contê-los. Para impedir que sua rede de influências e cumplicidades venha a sabotar a ação da Justiça.

*Médico

sábado, 11 de junho de 2016

A PÁ DE CAL



ZERO HORA 11 de junho de 2016 | N° 18553



INFORME ESPECIAL | Tulio Milman




Parecia, finalmente, uma autocrítica. Não era. Lula discursou durante a semana: Dilma Rousseff deve voltar ao poder para corrigir os erros do passado. Me enchi de esperanças. Finalmente, uma reflexão honesta sobre os caminhos errados daqueles que, durante tanto tempo, representaram a esperança de um projeto viável de esquerda.

Inspirado pela contundência de Lula, fui atrás dos erros. Desvendei o enigma ao ler a Resolução sobre Conjuntura do PT, parida no dia 17 de maio. Há menos de um mês, portanto. Transcrevo um trecho revelador: “Fomos igualmente descuidados com a necessidade de reformar o Estado, o que implicaria impedir a sabotagem conservadora nas estruturas de mando da Polícia Federal e do Ministério Público Federal; modificar os currículos das academias militares; promover oficiais com compromisso democrático e nacionalista; fortalecer a ala mais avançada do Itamaraty e redimensionar sensivelmente a distribuição de verbas publicitárias para os monopólios da informação”.

Leia de novo. Eu espero.

É de arrepiar. Em poucas linhas, o diretório nacional do PT joga na cara da sociedade o que aprendeu com os erros no passado: nada. Continua sonhando com um projeto de poder e não com um projeto de país. O partido defende, sem qualquer constrangimento, o aparelhamento ideológico do Estado. Transformar instituições em ferramentas partidárias.

Que tipo de modificação pretenderia a cúpula do PT, por exemplo, nos currículos das academias militares? Pretenderia, porque jamais conseguirá. Nossas Forças Armadas atingiram um grau de maturidade incompatível com quarteladas e bolivarianismos. Elas, sim, aprenderam com os erros no passado.

E no Itamaraty? Imagino o guru Marco Aurélio Garcia fazendo, pessoalmente, as entrevistas de seleção e promoção. “O senhor é da ala avançada? Então, bem-vindo ao novo mundo, camarada.”

É de apavorar.

Sem falar na visão velha, totalitária e conservadora de que é possível controlar a mídia com verbas publicitárias. Talvez na China, onde só existem jornais e tevês oficiais. E onde as redes sociais são censuradas. Compreendo o silêncio, mas tenho certeza de que muitos filiados e militantes petistas discordam deste descalabro.

Durante muito tempo, acreditei que Lula era uma solução inovadora, um modelo possível e eficiente de diálogo, de construção e de crescimento para o Brasil. Não me arrependo, mas acabou.

Qualquer projeto político só merece ser levado a sério se assumir como premissa a sua transitoriedade. O PT ainda nem conseguiu refletir sobre os erros do passado, mas foi além: já plantou os do futuro.

quarta-feira, 8 de junho de 2016

DOIS GOVERNOS EM BRASÍLIA


 


ZERO HORA 08 de junho de 2016 | N° 18550


+ ECONOMIA | Marta Sfredo





Há uma divisão de poder no Planalto Central, e não se trata do presidente interino, Michel Temer, e da presidente afastada, Dilma Rousseff. Uma parte da gestão provisória causa dor de cabeça e outra permite acalentar esperanças. No primeiro caso, estão os envolvidos em investigações. No segundo, estão integrantes da equipe econômica, a exemplo do indicado para a presidência do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn.

Na sabatina feita ontem no Senado, Ilan não enfrentou exatamente um desafio – cascas de banana foram previsíveis e quase ingênuas –, mas também não tropeçou nas próprias palavras, mais do que se pode dizer de muitos colegas de governo. Mesmo em um dia que começou incendiando os ânimos com o polêmico pedido de prisão de Romero Jucá, ministro por 11 dias, e dos presidentes do Senado, Renan Calheiros e afastado da Câmara, Eduardo Cunha, além de um adereço para o calcanhar para José Sarney, o mercado não se estressou. Preferiu confiar nas palavras melodiosas, ao ouvido dos investidores, do futuro presidente do BC: mais autonomia para a instituição, reconstituição do tripé macroeconômico – metas de inflação, câmbio flutuante e responsabilidade fiscal – e a explicação óbvia para o fato de ser “sócio” do Itaú Unibanco.

Como funcionário graduado, o economista tinha ações como parte da remuneração, como ocorre na grande maioria das companhias de capital aberto. Não era um acionista relevante da instituição financeira.

É verdade que o governo Temer foi “ajudado” pelo cenário externo. Outro banco central, o Federal Reserve, dos Estados Unidos, havia dado sinais de adiamento da alta do juro prevista para este mês. Isso reduz a pressão sobre o dólar comercial, que ontem caiu para R$ 3,45, menor cotação desde a véspera da votação do impeachment no Senado. Na bolsa, o que auxiliou foi a melhora nas cotações das commodities.

Na aparência, o governo Temer tem sorte. Correu riscos desnecessários ao escolher ministros investigados – e outros ao respaldar nomes que terão futuro curto no governo caso as investigações da Operação Lava-Jato não sejam interrompidas. Teve sorte ao convencer um grupo de profissionais que acena com credibilidade, em um país com escassez dessa virtude, a aceitar cargos em seu governo. Ainda tem tempo de decidir com qual metade quer caracterizar seu período na Presidência.

Insistir em fazer de conta que limpou o Planalto de respingos da Lava-Jato pode ser mais cômodo politicamente, mas ameaça comprometer a gestão da economia, que selará seu futuro.