VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

domingo, 4 de outubro de 2015

O GOLPISMO E A GUILHOTINA MODERNA



CORREIO DO POVO Porto Alegre, 04 de Outubro de 2015


JUREMIR MACHADO DA SILVA

  

Sábado passado fomos ao aniversário do Paulo Pinto, primo da Cláudia, com apresentação do hilariante Guri de Uruguaiana, e depois ao lindo show da Glau Barros, uma das melhores intérpretes de samba do Rio Grande do Sul atualmente. Na solidão do domingo nublado, escuto Joss Stone, Water for you soul, e releio Imagens e imaginário na história – fantasmas e certezas nas mentalidades desde a Idade Média até o século XX, de Michel Vovelle. Gosto muito de um texto dessa obra erudita: “A guilhotina: instrumento de terror”. Será que é um sintoma de algum fantasma que me assombra me fazendo desejar que cabeças rolem? Não creio. O máximo de violência que me atinge é desejar, sem jamais chegar a pronunciar uma só palavra, salvo no futebol de sábado à tarde, mandar alguém para a ponte que partiu.

Vovelle cita uma cançoneta popular interessante: “O deputado Guillotin/em arte médica/muito capaz e astucioso/fez uma máquina/para expurgar o corpo francês/de todas as pessoas com ideias/É a guilhotina, olé/É a guilhotina…” No Brasil contemporâneo, a guilhotina é o impeachment. Não que o impeachment corte cabeças de gente com ideias. Collor nunca teve uma só. Dilma Rousseff anda em busca de uma que a salve da máquina dos deputados Guillotin. O fantasma que a assombra talvez seja o da Rainha de Copas, de Alice no país das maravilhas, gritando “cortem-lhe a cabeça”. Não era Dilma que tinha fama de rainha destemperada? A maior certeza do cidadão atual é que, na política, não tem roubo sem a conivência do chefe.

O impeachment está previsto na Constituição, mas não para satisfazer a ira da Rainha de Copas (a oposição? O senso comum?) por qualquer razão ou sem razão alguma. Precisa uma justificativa jurídica, um crime de responsabilidade. A prova de que essa prova ainda não foi encontrada para acionar a guilhotina e destituir Dilma da sua cabeça já perdida é o entusiasmo da oposição com o pedido de impeachment de Dilma feito por Hélio Bicudo, jurista e ex-petista. O que tem a demanda de Bicudo que não têm os outros 21 requerimentos para transformar a presidente em Maria Antonieta pós-moderna? Nada. Salvo o fato de ter assinatura de Hélio Bicudo. A sua legitimidade vem não da apresentação de provas, mas do famoso “quem está dizendo o quê”. Não cabe falar da possível simetria entre Bicudo e tucanos.

A guilhotina do impeachment não é um instrumento de recall contra a incompetência de governantes. Vovelle diz que a guilhotina “estava para o massacre como o Terror estava para a violência espontânea”. A guilhotina assumiu o papel de ferramenta da violência institucionalizada. O ritual que ela exigia antes de cair sobre qualquer cabeça tornou-se cada vez mais sumário. Havia pressa. Os revolucionários tornaram-se rainhas loucas gritando: cortem a cabeça. O impeachment sem crime de responsabilidade é uma guilhotina sem ritual ou a violência “espontânea” das oposições contra as ideias ou falta de ideias de quem está no poder. Na Revolução Francesa, o “guilhotinador” de um dia foi guilhotinado no outro.

Será o PT um Robespierre a caminho do patíbulo onde pagará pelo terror que gerou?

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