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domingo, 15 de março de 2015

O DESGASTE DE DILMA






ZERO HORA 15 de março de 2015 | N° 18102


CLEIDI PEREIRA


POLÍTICA AVALIAÇÃO DAS RUAS. Popularidade da presidente tem queda abrupta em dois anos na esteira de corrupção, alta de preços e cortes em benefícios trabalhistas. A demora para reagir ajuda a desgastar a imagem


Em março de 2013, a presidente Dilma Rousseff surfava em uma onda de popularidade. Alavancada pelas políticas sociais, a aprovação da gestão petista atingia índice inédito de 65%. Dois anos depois, o cenário é outro. Reeleita em uma das disputas mais acirradas da história, desgastada pelo escândalo de corrupção na Petrobras e tendo que adotar medidas amargas para tirar o país da crise econômica, Dilma viu a rejeição ao seu governo dar um salto nos últimos meses.

A mais recente pesquisa Datafolha, divulgada na semana passada, mostrou que 44% dos brasileiros consideram o início do segundo mandato ruim ou péssimo. É a pior avaliação de um presidente desde dezembro de 1999, quando a crise cambial fez a rejeição ao governo Fernando Henrique alcançar 46%, três meses após o pico de 56%.

Especialistas entendem que o desgaste de Dilma, que venceu a eleição com uma diferença de apenas 3,4 milhões de votos, já era esperado, mas a queda abrupta na popularidade surpreendeu. Inflação acelerada, altas na gasolina e na conta de luz e os desdobramentos da Operação Lava-Jato colaboraram para a construção de um cenário de incertezas e frustração. Um prato cheio para opositores, que prometem levar milhares de pessoas às ruas neste domingo.

– Você tem aí uma superposição de uma série de crises, que estão coincidindo no tempo e se alimentando mutuamente – resume Paulo Kramer, do Instituto de Ciência Política (Ipol), da Universidade de Brasília (UnB).

Segundo o professor, um dos efeitos colaterais da atual conjuntura é o “desempoderamento” do Executivo. Kramer explica que o Congresso tende a se tornar mais “cobrador e agressivo” toda vez que a popularidade de um presidente recua de forma significativa.

Insatisfação superestimada

Para a presidente da Associação Latino-Americana de Consultores Políticos, Gil Castilho, Dilma também errou ao demorar para se posicionar, pois “qualquer crise merece uma resposta rápida”. Além disso, conforme a consultora, a petista não costuma passar segurança quando fala:

– Do ponto de vista da imagem e da comunicação, faltou essa presença de governante, de estadista que deveria assumir as rédeas da nação em um momento de crise.

O sociólogo Brasílio Sallum Júnior, da Universidade de São Paulo (USP), cita como agravantes da crise os conflitos internos no PT e a contradição entre o discurso de Dilma na campanha e as medidas adotadas ainda no fim do primeiro mandato, como a medida provisória que alterou as regras de concessão de benefícios trabalhistas.

No entanto, ele afirma que a insatisfação da sociedade está um pouco superestimada. Conforme o professor, a vitória da petista se deu muito em função da maioria que ela obteve nas camadas sociais de até 2,5 salários mínimos, mas “quem se manifesta na vida pública, quem tem voz e capacidade de mobilização, em geral, está acima desses níveis de renda”:

– É uma situação realmente difícil para a presidente, mas, acima de tudo, é difícil para o Brasil.


Economia é limitador para melhorar imagem

Quase ninguém arrisca um palpite sobre o que deve acontecer nos próximos meses. As únicas certezas são as de que a crise econômica deve se arrastar e a reconstrução da popularidade da presidente Dilma Rousseff não será tarefa fácil.

Segundo o cientista político Valeriano Costa, da Unicamp, para sair da crise, a presidente terá de recompor a base de apoio e reforçar a agenda positiva. Mas ele reconhece que a situação é complexa, pois existe o risco de o PMDB migrar para a oposição, dependendo do andamento da CPI da Petrobras. Além disso, a situação econômica do país pode ser um limitador para a agenda positiva.

– Dilma precisa rapidamente mostrar que o governo está funcionando. Se tiver uma agenda positiva, o Congresso respira e começa a reduzir o grau de tensão. É um jogo que vai depender de muita habilidade dela e do seu grupo – afirma o cientista político, lembrando que a presidente já começou o trabalho com a base, trazendo outros ministros, como o gaúcho Eliseu Padilha (PMDB), para a articulação política.

Professor da Escola de Direito da Fundação Getulio Vargas (FGV) no Rio de Janeiro, Michael Mohallem acha que, pelo que o cenário atual indica, a turbulência deve ser passageira. Segundo ele, se as medidas econômicas surtirem efeito, o quadro pode melhorar.

– Menosprezar, achar que o governo não vai reagir, parece simplista – acrescenta.

Apesar de manifestações favoráveis ao impeachment da presidente, que circulam pelas redes sociais e devem marcar presença nos protestos deste domingo, analistas acreditam que esta é uma possibilidade muito remota.

– O impeachment é um instrumento previsto na Constituição. Agora, o uso do impeachment nem sempre é constitucional, e o uso nesta conjuntura seria inconstitucional – diz Mohallem.

O tema também divide a oposição. Na semana passada, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que um eventual impeachment de Dilma não adiantaria nada. Para o cientista político da Unicamp, Valeriano Costa, a oposição dificilmente irá querer correr o risco de ficar marcada como “golpista” e inviabilizar uma possível eleição em 2018. De acordo com o professor, a estratégia, como já anunciado pelo senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), será de fazer a presidente sangrar. Costa, contudo, diz não ter certeza sobre essa capacidade da oposição, tendo em vista que “esse jogo não é um jogo de um lado só”:

– O cenário é de incerteza, porque depende de muitas variáveis que não estão na mesa.

Ainda tem muita água para rolar, e o que aflige políticos e analistas é que não se sabe exatamente de onde ela virá.

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