VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

O PIOR VENDEDOR DE LIVROS DA FEIRA



ZERO HORA 18 de novembro de 2014 | N° 17987


JORGE BARCELLOS




A Feira do Livro terminou e a expectativa é de que tenha batido o milhão de visitantes e milhares de livros vendidos. Em 2013, foram 420.384 livros comercializados e 643 sessões de autógrafos. É um sucesso. Ainda não saíram os recordistas de vendas deste ano, mas, se eu posso zoar, posso falar que sou o recordista em “não vendas”: vendi um único exemplar de Educação e Poder Legislativo, obra de minha autoria lançada pela Aedos Editora na Feira do Livro no último dia 14. O presidente do Legislativo, Professor Garcia, a quem sou imensamente grato, foi o único vereador que compareceu à sessão de autógrafos. Poderia ter pedido cortesia, mas preferiu pagar. Vou votar nele na próxima eleição. Ele se preocupa com a responsabilidade da Câmara com a educação. Não é à toa: antes de ser presidente do Legislativo, ele é professor.

Não fico triste: milhares de autores escrevem e sequer conseguem publicar. Publicar já é um feito face à indústria em que se transformou o meio. Se não tem apelo, se não tem uma grande editora, uma grande capa e o apoio da mídia, você não vende. O meio é fechado porque visa ao lucro. Espaços alternativos são raros. Autores iniciantes têm pouca chance. As leis do meio são cruéis. Publicar pela primeira vez, uma odisseia. Publicar um livro técnico no universo dominado pelos best- sellers, uma temeridade.

Publicar um livro já foi uma arte, mas hoje cede à lógica da mercadoria na sociedade de massas. Pior é a autopublicação, um buraco negro, porque a obra pode ou não vender. É o meu caso. Claro que a agenda dos ve- readores é cheia, afinal são apenas 36 vereadores para uma cidade de 1 milhão e meio de habitantes com demandas imensas. Eu apenas lamento sua ausência, são os principais interessados.

Mas a questão é outra. O caso serve para refletir sobre as nossas práticas. Dizemos a todo instante que nos preocupamos com a educação. Dizemos que as instituições públicas devem ser chamadas à responsabilidade. Na primeira oportunidade que uma instituição e a sociedade têm para refletir sobre o papel de seu Legislativo, ela se ausenta. Por quê? Porque, na verdade, vivemos correndo e escondemos o fato de que não temos tempo para ler. Preferimos os livros pequenos, de letras enormes e imagens grandes. A cultura visual afeta o público leitor, ela transforma o livro numa mercadoria para colocar nas estantes e parecer culto. Se um livro sobre as políticas públicas de educação que se produzem no parlamento não interessa, é porque vamos à Feira do Livro não para comprar os livros que realmente são importantes e que vamos ler, mas porque curtimos apenas o espaço e a sensação de consumir que a Feira provoca. Se for assim, é uma pena.

*Doutor em Educação pela UFRGS

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