VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

domingo, 9 de novembro de 2014

A RAPOSA E AS UVAS

ZH 09 de novembro de 2014 | N° 17978


FLÁVIO TAVARES



A característica político-eleitoral do Brasil é a “rejeição”. Não se vota a favor de programas ou ideias. Vota-se “contra”. Não se acatam os partidos. Rejeitam-se. E, nisso, o PT é como a seleção alemã de futebol – faz 7 x 1. No atribulado mundo consumista, 12 anos no poder desgastam os governantes, mas com o PT há algo a mais. Tudo se origina nele. Os petistas se comportam como se o país começasse com eles. Os opositores, ou neutros, atribuem ao PT todos os males do planeta, até os inexistentes.

A explicação, porém, não está no desgaste do poder. O PSDB de Fernando Henrique governa São Paulo há 16 anos e reelegeu (com folga) o governador Alckmin em pleno tormento da falta d’água. O problema é velho e brutal, mas nem piou na campanha eleitoral, que lá foi tão medíocre como entre nós. (Em emergência, agora os paulistas “tratarão” o esgoto para usá-lo como água...)

Num país em que o voto expressa só uma obrigação, não um dever cívico espontâneo, os desmandos e a corrupção partidária explicam que a rejeição guie a política. O PT surgiu na esquerda como revolução de esperança, rejeitando a famélica política das raposas, até ser visto como uma raposa a mais. Na ânsia de agarrar-se ao poder, doou postos-chaves ao PMDB e a outros 10 partidos da base alugada, a começar pelo PP, de Maluf, ou o PRB dos “bispos” Crivella e Edir Macedo, da Igreja Universal.

Nessa “salada de frutas”, ao misturar mamão, charque, feijão e uva, ficou apenas o gosto do cozinheiro e dono da casa...

Os líderes nacionais do PMDB (Sarney, Renan Calheiros, Michel Temer e outros) controlam ministérios, empresas estatais, autarquias e fundos de pensão. Aí, usufruem de orçamentos superiores aos do próprio “dono”.

A fraude bilionária na Petrobras teve como figura principal o diretor nomeado pelo PP. O ministério de Minas e Energia, que controla a empresa e toda a estratégica e bem aquinhoada área energética, é do PMDB desde 2005, ainda com Lula.

Dias atrás, o presidente da Transpetro (subsidiária da Petrobras), Sérgio Machado, há 11 anos no cargo por indicação do senador Renan Calheiros, foi levado a “pedir licença” por 31 dias, ao aparecer envolvido em subornos na compra de navios. A demissão (que virou “licença”) foi exigência da empresa norte-americana que, seguindo as normas internacionais, faz a auditoria da Petrobras, mas o PMDB avisou que tomava o ato como ameaça de despejo.

Na CPI de senadores e deputados sobre a fraude na Petrobras (depois que o ex-presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra, falecido há meses, surgiu entre os subornados), governo e oposição se ameaçaram mutuamente em convocar os “grandes” de ambos os lados – Lula, Dilma e Fernando Henrique. Mas o relator da CPI, o canoense Marco Maia, hábil ex-metalúrgico do PT, lembrou que “um unânime acordo anterior” impedia ouvir políticos e o temporal se amainou.

Disputas, bravatas e ofensas dominam a área política, mas tudo termina em acordo de conveniência. A estrutura dos partidos pensa na própria preservação, mais do que em preservar a verdade. A “coisa pública” – a República – passa a plano inferior.

Para que a raposa não se banqueteie com as uvas antes do banquete, a reforma política deve começar pelos partidos. Enquanto forem meros aglomerados em busca do banquete, não haverá parreiral que aguente. Quanto mais raposa, menos uva!

P.S. – No próximo sábado, dia 15, a partir das 16h, autografo na Feira meu último livro, 1964 – O Golpe, e a nova edição revista de O dia em que Getúlio matou Allende, de 10 anos atrás e relançado agora pela L&PM.

Neles, as tramas e intrigas dos velhos tempos soam a brinquedo infantil frente às de hoje.

Jornalista e escritor


 

Nenhum comentário: