VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

VITORIOSOS, SIM. FRÁGEIS, TAMBÉM



ZH 27 de outubro de 2014 | N° 17965

CLEIDI PEREIRA ITAMAR MELO


O PT E O “TERCEIRO TURNO”

O PARTIDO E A PRESIDENTE DILMA vão encarar grandes desafios como reconciliar um país dividido e enfrentar adversários que atacarão governo com o caso de corrupção da Petrobras


No seu discurso de posse, em 1° de janeiro de 2011, a presidente Dilma Rousseff prometeu governar o Brasil com coragem. Durante a cerimônia no Congresso, a primeira mulher eleita para comandar o país lembrou que sua “dura caminhada” havia lhe dado “sobretudo coragem para enfrentar desafios”. Antes de chegar ao cargo, a mineira de coração gaúcho teve de vencer a tortura, um câncer e a desconfiança de muitos. Reeleita com 51,64% dos votos (99,95% das urnas apuradas), Dilma vai precisar não apenas de uma dose extra de coragem, mas de muito jogo de cintura para enfrentar desafios ainda maiores no segundo mandato.

O primeiro deles será o de reconciliar um país dividido após uma das eleições mais acirradas da história brasileira. A partir de 2015, a petista também irá encontrar um Congresso mais conservador, com uma oposição fortalecida e bancadas do PT e PMDB encolhidas. E, além de um cenário econômico que tende a ser pouco favorável no próximo ano, Dilma terá de estar preparada para uma espécie de “terceiro turno”, no qual os adversários da petista farão uso do suposto esquema de corrupção envolvendo a Petrobras para atacá-la, explorando o fantasma do impeachment.

– O segundo mandato de Dilma deverá ser um governo de crises. Ela vai precisar da militância e terá de se reaproximar dos movimentos sociais para sustentar seu governo e enfrentar as crises políticas que se anunciam – avalia o sociólogo e cientista político Paulo Baía, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Não bastasse essa série de dificuldades, a relação de Dilma com seu principal – mas não tão fiel – aliado, o PMDB, promete ser ainda mais complicada. Segundo o cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília (UnB), os peemedebistas, que crescem diante de um PT que sai das urnas fragilizado, não aceitarão mais ser tratados como “primos pobres” e deverão exigir um número maior de ministérios e pastas de peso.

O segundo mandato de Dilma, embora seja um governo de continuidade, se dará em um “novo país”, de acordo com o historiador Lincoln Secco. Professor da Universidade de São Paulo (USP), ele acredita que o Brasil poderá voltar a enfrentar protestos, pois as jornadas de junho de 2013 abriram um “novo ciclo político”. O governo, pego de surpresa, não soube dar uma resposta às manifestações. Tanto é que a popularidade de Dilma, depois de atingir o recorde de 63% em março de 2013, despencou após os protestos. Secco, autor do livro A História do PT, ressalta que o rearranjo das classes sociais promovido pelo próprio partido também gerou uma modificação nas demandas políticas.

– Ficou claro nesta eleição que a nova classe trabalhadora, surgida durante os governos petistas, se dividiu. Uma metade ficou com Aécio Neves e outra com Dilma. E o PT vai ter que fazer um esforço para conquistar exatamente este setor, que foi às ruas e pediu melhores serviços públicos.

A REFORMA POLÍTICA TERÁ DE SAIR DO PAPEL

Nos comícios, caminhadas e carreatas da campanha deste ano, as bandeiras com o nome de Dilma Rousseff e as camisetas estampadas com a foto da ex-guerrilheira desbancaram a estrela-símbolo do PT, que se sobressaía em atos nas eleições passadas. O súbito apagão do astro pode ser encarado como sintoma do desgaste da legenda, provocado não só por denúncias de corrupção, mas, principalmente, pelo tempo de permanência no governo.

– O PT hoje é um partido exitoso, mas envergonhado – resume Frei Betto, que participou da criação da sigla, em 1980.

Embora os avanços na área social sejam a principal marca dos governos petistas, o escritor e religioso afirma que o PT terá que se refundar e repensar “se quer realmente mudar o Brasil ou se quer só – a qualquer custo – manter-se no poder”. A eleição deste ano, conforme Frei Betto, vai obrigar a sigla a fazer um “exame de consciência”, pois “não dá para assegurar governabilidade com tamanha vitrine de vidro”.

– O partido está devendo uma apuração mais séria a respeito dos desvios que ocorreram esses anos. Agora, o PT tem de colocar a mão na consciência e tentar redirecionar os seus políticos e militantes no rumo ético, que foi o caracterizou o partido na sua origem. A presidente Dilma, para isso, tem muita força e uma conduta exemplar.

Ao conquistar o quarto mandato consecutivo, o PT caminha para ser a segunda força política no ranking de longevidade no poder no país. Na história brasileira, um mesmo grupo só conseguiu governar o país por tanto tempo sob regimes autoritários, como na Era Vargas (1930-1945) e na ditadura militar (1964 -1985).

Ex-dirigente nacional do PT, Artur Scavone avalia que os próximos quatro anos serão fundamentais para consolidar um processo de mudanças estruturais iniciado pela sigla em 2003. Para a “amarração desse período”, conforme Scavone, o governo Dilma terá de envidar esforços para que a reforma política saia do papel. Na avaliação do ex-deputado estadual Flávio Koutzii, um dos principais intelectuais do PT gaúcho, a conquista do quarto mandato representa não só a oportunidade de avanços, mas uma chance de esclarecer a população sobre “o sentido de cada escolha, programa e política”.

– As vicissitudes da vida política estão mostrando que nós explicamos menos do que devíamos as coisas que fizemos. Isso não veio acompanhado nunca de nenhum tipo de politização.

A discussão que se abre, a partir de agora, é sobre o nome que a legenda deverá lançar para a corrida presidencial daqui a quatro anos. Amigo de Lula, Frei Betto afirma não ter “a menor dúvida” de que o ex-presidente será o candidato do partido no próximo pleito. O escritor e religioso lembra que a reviravolta eleitoral no primeiro turno, após a morte de Eduardo Campos, reacendeu o movimento “volta, Lula”.

– O PT não tem outra liderança. Nessa reta final, Lula saiu país afora fazendo campanha e aglutinando enormes multidões de eleitores.

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