VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

PECADOS DE TARSO E PROBLEMAS DE AÉCIO

ZERO HORA 27 de outubro de 2014 | N° 17965


POLÍTICA + | Rosane de Oliveira



DEPOIS DA FESTA, OS DESAFIOS DE SARTORI


Vencedor da eleição com impressionantes 56,26% dos votos totais (61,21% dos válidos), José Ivo Sartori (PMDB) tem pela frente o desafio de governar um Estado em situação financeira crítica, que gasta mais do que arrecada, tem quase toda a receita consumida no pagamento de funcionários públicos, de aposentados e da dívida com a União, esgotou as fontes de financiamento e está no limite da capacidade de tomar novos empréstimos.

Ao longo da campanha, Sartori tergiversou quando questionado sobre as medidas amargas que terá de adotar. Citou sempre a renegociação da dívida, a recuperação dos créditos da Lei Kandir e a revisão do pacto federativo como caminhos para o equilíbrio das contas. Falou em redução de despesas sem indicar as áreas que sofrerão cortes e apontou as parcerias público-privadas e as concessões como instrumentos para garantir os investimentos de que o Estado necessita.

Ontem mesmo, ao ser entrevistado na Rádio Gaúcha, disse que não podia adiantar medidas porque antes precisa conhecer os números e “tomar pé da situação”. Os números são públicos, sua equipe está a par da gravidade da situação financeira do Estado, mas nunca se viu um candidato que disputa a eleição com chance de vencer anunciar medidas amargas antes do fechamento das urnas. Quando questionado sobre a possibilidade de arrocho salarial, Sartori deu apenas uma pista do que virá:

– Vou cumprir as leis e pagar os aumentos dados pelo atual governo, alguns que vão até 2018.

Tradução para os funcionários públicos: não contem com reajustes salariais no primeiro ano de governo ou até que o futuro governador consiga reduzir os gastos com a dívida, o que não depende apenas da vontade dele, mas de uma mobilização de governadores e da disposição da presidente Dilma Rousseff.


DERROTADO NA ELEIÇÃO ESTADUAL, TARSO GENRO É COTADO PARA OCUPAR ALGUM MINISTÉRIO NO NOVO GOVERNO DILMA. O CERTO É QUE O GOVERNADOR TENTARÁ TER MAIS INFLUÊNCIA NO COMANDO NACIONAL DA SIGLA. ONTEM, TARSO DEFENDEU A REFUNDAÇÃO DO PT.



ORGULHO DE MÃE

 

A estrela da campanha de José Ivo Sartori não foi o candidato, nem uma atriz, nem uma cantora. Foi a mãe dele, dona Elsa, 86 anos, que apareceu no primeiro programa de TV, contando sobre a infância do filho. No início, Sartori não queria que a mãe aparecesse, mas a equipe foi conversar com ela para definir como o candidato – desconhecido da maioria dos gaúchos – seria apresentado e se encantou com a desenvoltura de dona Elsa. Quando ela contou que ainda guardava “a mala de papelón” na qual Sartori levou seus poucos pertences quando foi para o seminário, o marqueteiro Marcos Martinelli decidiu que o depoimento dela seria indispensável.

Moradora de Antonio Prado, na Serra, dona Elsa foi uma das primeiras a votar ontem na sua seção (foto). Ao falar sobre a eleição do filho, em entrevista à Rádio Solaris, disse estar emocionada e falou que “nunca imaginou” que o filho se tornaria governador do Estado.

– Eu tenho orgulho dele. Não acreditava que ele fosse ser governador – explicou.

A aposentada lembrou que quando Sartori comunicou aos pais que seguiria a carreira política, o seu pai, Antônio, pediu que ele fosse “honesto e trabalhasse certo”.

– Ele tem que ser honesto, sincero, trabalhar bastante e ajudar as pessoas como ele prometeu – aconselha dona Elsa.

ALIÁS


Sartori foi beneficiado pelo espólio de votos dos outros candidatos. Fez 1,4 milhão de votos a mais no segundo turno, enquanto Tarso fez cerca de 440 mil a mais.



OS 7 PECADOS DE TARSO

Tarso Genro perdeu a eleição, apesar de ter um governo relativamente bem avaliado. Além da tradição do eleitor gaúcho de não reeleger governador, pesaram no resultado os erros cometidos durante o governo e na própria campanha.

1. Excesso de confiança – Tarso entrou na disputa convencido de que seu governo era excepcional e tinha programas para todos os segmentos da sociedade.

2. Falha na comunicação – O PT apostou demais nas redes sociais e ignorou o conselho do marqueteiro de Dilma, João Santana, que em 25 de janeiro de 2013, numa reunião em Canela, advertiu que o governo precisava falar mais para fora. Santana lembrou que a maioria das pessoas se informa pela TV e não por blogs e redes.

3. Mania de perseguição – Em vez de usar as críticas para corrigir erros, a tropa de choque do governo passou quatro anos reclamando da “grande mídia” e usando blogs e perfis nas redes para atacar quem ousasse apontar problemas na administração.

4. Volta ao passado – Em 2010, Tarso se elegeu no primeiro turno como um candidato de discurso mais amplo, sem os velhos ranços do PT. Neste ano, a campanha voltou o foco para o partido, como contraponto a um candidato que adotou o slogan “Meu partido é o Rio Grande”. Com a política desgastada, o apelo partidário acabou pesando contra o governador.

5. Desprezo pelo adversário – O PT sempre considerou Ana Amélia uma candidata fácil de derrotar. Quando percebeu que ela não caía, começou um processo de desconstrução política que fez reviver o embate com Antonio Britto em 2002. Derrubou Ana Amélia, mas ganhou um adversário mais difícil, que tinha passado o primeiro turno sem sofrer contestação.

6. Falta de clareza – Tarso teve dificuldade para explicar o saque de mais de R$ 6 bilhões dos depósitos judiciais e prometeu aumento de gastos, apesar do esgotamento das fontes de financiamento do déficit.

7. Radicalismo
– Ao adotar um estilo brigão, o PT obteve como resposta o crescimento do antipetismo.



MARKETING VITORIOSO COM MARTINELLI

A vitória de José Ivo Sartori é mais um troféu para a coleção do jornalista Marcos Martinelli, que em 2012 ajudou a eleger o prefeito José Fortunati. Martinelli assumiu a coordenação do marketing de um candidato que tinha 4% nas pesquisas, era desconhecido fora da Serra e não contava com recursos financeiros para gastos elementares, como a contratação de um instituto de pesquisas.

A equipe coordenada por Martinelli teve Renato Konrath como diretor de criação, Newton Bento na direção de Arte e um time reforçado por Gustavo Fogaça, Luciano Leonardo, Ricardo Batista e Beto Andrade, entre outros.



DISCURSO DE CONCILIAÇÃO

 

Nunca houve na história recente do Brasil uma eleição tão apertada como esta que reelegeu a presidente Dilma Rousseff e deu ao PT o quarto mandato consecutivo. Dilma teve 51,64% dos votos válidos contra 48,36% de Aécio Neves (PSDB). Em números absolutos, ficou abaixo da própria votação obtida há quatro anos, quando derrotou o também tucano José Serra. Os 3,4 milhões de votos que fez mais do que Aécio representam menos da metade dos votos nulos e brancos.

Embora diga que não, Dilma vai administrar um país dividido, com a oposição fortalecida, e terá como tarefa prioritária unir o país e reconciliar os brasileiros depois de uma disputa que entra para a história não apenas como a mais acirrada, mas como aquela em que o debate chegou ao nível mais baixo. Reconciliar esse Brasil dividido entre ricos e pobres significa governar sem discriminar os Estados em que foi derrotada, caso do Rio Grande do Sul.

No primeiro discurso depois do resultado, Dilma conclamou as pessoas a se unirem e disse que o sentimento que mobilizou os brasileiros na campanha deve servir para a construção de pontes que permitam ao país avançar.

– Minhas primeiras palavras são de chamamento à paz e à união – disse a presidente no discurso em que anunciou o diálogo como seu primeiro compromisso.

A vitória apertada deve servir de motor para as reformas. Repetindo o discurso de 2010, Dilma disse que a primeira e mais importante é a reforma política. O segundo governo terá de ser, obrigatoriamente, melhor do que o primeiro, sobretudo na área econômica, que é hoje o seu calcanhar de aquiles. Combater a inflação terá de ser uma obsessão a partir de agora. Reconquistar a confiança dos investidores é importante para que o país volte a crescer, mas, para isso, Dilma terá de mostrar ao mundo que está disposta a combater a corrupção e impedir que se reproduzam os delitos que abalaram a confiança na Petrobras e quase lhe custaram a eleição.

Aécio Neves perdeu a eleição, mas seu desempenho o credencia como principal líder da oposição e forte candidato em 2018. Aécio é jovem, tem somente 54 anos, passará os próximos quatro anos no Senado e poderá pavimentar o caminho para a eleição. O ex-presidente Lula, que concorreu pela primeira vez em 1989, com 44 anos, só conseguiu se eleger na quarta tentativa, aos 57 anos.



OS 7 PROBLEMAS DE AÉCIO NEVES


1. Fragilidade no Nordeste – Território dominado pelo PT, por conta dos programas sociais, o Nordeste foi decisivo para dar a vitória a Dilma. Aécio não foi capaz de articular a campanha e convencer os eleitores da região.

2. Anúncio precoce
– Aécio deu munição ao PT quando anunciou a intenção de nomear Armínio Fraga como ministro da Fazenda. As posições polêmicas do economista prejudicaram o tucano.

3. Derrota em casa – Apesar de obter bons índices de aprovação no seu governo em Minas, Aécio perdeu para Dilma no seu Estado. Em Minas, o PT elegeu o governador Fernando Pimentel no primeiro turno.

4. DNA de programas – O tucano se esforçou para convencer os eleitores mais pobres de que os programas sociais do PT foram inspirados em ideias do PSDB. Não colou.

5. Aeroporto – Aécio tentou de todas as formas justificar a construção de um aeroporto no terreno de um parente, mas o episódio acabou afetando sua imagem.

6. Agressividade – A tática de bater na presidente Dilma Rousseff do início ao fim da campanha foi repudiada por parte dos eleitores em um momento decisivo do segundo turno. Uma pesquisa mostrou que ele perdeu pontos com o eleitorado feminino depois do debate em que chamou Dilma de mentirosa e leviana.

7. Tom debochado – O sorriso irônico e por vezes arrogante de Aécio nos debates foi criticado por especialistas em marketing.

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