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domingo, 20 de julho de 2014

COMO AS REDES VÃO INTERFERIR NESTA ELEIÇÃO


ZERO HORA 20 de julho de 2014 | N° 17865


LETÍCIA DUARTE


ELEIÇÕES. Como as redes vão interferir nesta eleição


Seja por um amigo do Facebook, um robô do Twitter ou um viral no YouTube, até 5 de outubro sua timeline vai ser invadida por mensagens políticas, em busca das suas curtidas, dos seus comentários – e do seu voto. Gostando ou não de política, as redes e seus recursos de interação já estão mudando o comportamento dos eleitores.

Se nunca antes na história deste país tanta gente passou tanto tempo conectada à internet, também se pode dizer que nunca antes na história das eleições nacionais a disputa será tão influenciada pelas redes.

Só que entender as sinuosidades dessa influência pode ser mais complicado do que distinguir entre esquerda e direita nas esquizofrênicas alianças partidárias apresentadas pelos candidatos.

Para o pesquisador da área de engenharia de software Silvio Meira, professor da Universidade Federal de Pernambuco e cientista-chefe do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (C.E.S.A.R), esta vai ser a primeira campanha em que as redes sociais vão interferir no comportamento do eleitor. Graças à popularização dos smartphones, um contingente inédito poderá interagir de forma instantânea com a discussão política, compartilhando ou contestando mensagens. Mas ele faz uma ressalva: essa interferência muda comportamentos, não necessariamente a escolha do candidato.

– Tem um bocado de gente querendo chegar na minha timeline e dizer um monte de coisa. E eu posso interferir diretamente. Eu posso comentar, gostar ou não. Não estou dizendo que vai influenciar o voto, mas pode interferir de forma direta e em tempo real na conversa sobre a eleição – analisa Meira.

Parte desse poder vem do crescente engajamento nacional às redes, que faz com que o tempo de utilização dos smartphones pelos brasileiros já supere a média global (com média de 84 minutos no uso diário dos aparelhos, contra 74 no mundo). Por outro lado, é preciso lembrar que o acesso ainda é limitado. A 1ª Pesquisa Brasileira de Mídia 2014, realizada pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República com pesquisa do Ibope e Inteligência, aponta que 47% da população costuma acessar a internet – e desses só 26% o fazem diariamente. Ainda assim, a força das redes é amplificada pelo seu potencial de reverberação. Um dos organizadores do livro Do Clique à Urna: Internet, Redes Sociais e Eleições no Brasil (Edufba, 2013), o professor da Universidade Federal do Ceará Jamil Marques chama atenção para o fato de que mesmo os que não estão na rede são influenciados por ela. Denominado “remediação”, o fenômeno é caracterizado por uma espécie de contaminação, em que uma plataforma influencia a outra. Um exemplo: o caso do menino de Santa Catarina que ficou famoso com o bordão “tácale pau”.

– Muitas pessoas não assistiram ao vídeo na internet, mas ficaram sabendo porque isso foi para a TV. Também ocorre o contrário, quando os exercícios de fono da Patrícia Poeta na TV vão parar no YouTube. Isso também acontece na política – compara Marques.

Em meio ao tráfego incessante de informações, ganham espaço as chamadas “guerrilhas de internet”, alimentadas por blogs anônimos que difundem ataques contra adversários. A estratégia, explica Jamil, é produzir tantos links e compartilhamentos a ponto de iludir a indexação do Google, para que os boatos apareçam nas primeiras páginas de pesquisa, como se fossem fatos.

– Esses militantes são treinados e remunerados para espalhar mentiras, e isso reverbera. Mas do mesmo jeito que há perfis voltados para atacar, surgem outros para defender. Isso faz parte do jogo. Campanha negativa sempre vai existir, mas o eleitor também está cada vez mais atento – pondera Marques.

Professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e presidente da Associação Brasileira de Ciência Política, Leonardo Avritzer observa que a dubiedade na legislação eleitoral favorece os ataques na internet.

– O Brasil tem optado por hiper-regular a TV e não tem quase nenhuma regulação da internet. Na TV existe o exercício do direito de resposta. Se um candidato ataca outro, no dia seguinte o outro tem direito de resposta. Na internet, já temos o Marco Civil, que ajuda a tomar atitudes legais, mas a retirada do conteúdo é lenta. Numa eleição, se demorar 24 horas para tirar do ar pode ser muito tempo, porque a grande característica é o poder de replicar rapidamente uma mensagem – analisa Avritzer.

Na avaliação do pesquisador, o ideal seria que nem a TV fosse tão regulada, nem a internet tão desregulada. Estudioso da democracia, Avritzer considera que as redes trazem um ganho importante de pluralidade e difusão de informações, mas salienta que não pode haver idealização, porque “expressam a sociedade tal qual ela existe”. Assim, são inevitavelmente novos canais para expressões de radicalização e partidarização.

Embora os candidatos estendam suas batalhas para as redes, o professor Fábio Malini, coordenador do Laboratório de estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), concorda que a forma de disputa não mudou em sua essência.

– Essa história de guerrilha de internet é uma paranoia, tudo artificial. A estratégia é culpar a internet por questões que têm a esconder. Os candidatos deveriam contrapor com verdades o que consideram mentira. Porque a verdade também pode se propagar rápido. Existem grupos em todos os partidos que espalham boatos. É como antes o cara que chegava e começava a falar mal de um candidato para que aquilo se propagasse. Isso não é originário da internet – contesta.

Enquanto os blogs anônimos espalham trevas para dar ares de vilão de novela aos adversários, os perfis chapas-brancas trabalham para tentar colar as virtudes de herói no seu candidato.

– Os robôs com função de retuitar reproduzem aquela ideia de ônibus lotados que levavam apoiadores para os comícios para dar audiência. É a reprodução da política da bajulação – analisa Malini.

Nem sempre as táticas funcionam. À medida que todas as candidaturas se apropriam das ferramentas tecnológicas, tendem a repetir fórmulas semelhantes. Tanto que o cientista político Emerson Cervi, professor do programa de pós-graduação em ciência política da Universidade Federal do Paraná (UFPR), enxerga uma contradição: quanto mais utilizados por todas as candidaturas, os dispositivos passariam a fazer menos diferença do ponto de vista eleitoral.

– Num ambiente em que todas as candidaturas usam as mesmas estratégias, os efeitos se anulam – reflete.

Da mesma forma, Cervi considera que as ditas guerrilhas travadas nos porões das campanhas são parte de um jogo calculado. Que pode ser temido, mas não superdimensionado.

– Não se pode transferir difusão de conteúdo à decisão de voto, nem fazer a relação direta. Senão volta-se à teoria da agulha hipodérmica, como se a mídia inoculasse algo sob a pele e estaria limitado a agir ali. O comportamento das pessoas é muito mais complexo – lembra.

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