VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

sábado, 17 de maio de 2014

RESSACA DE OTIMISMO



ZERO HORA 17 de maio de 2014 | N° 17799


CLÁUDIA LAITANO




Há cinco anos, o Brasil vivia um momento “última bolachinha do pacote”. Em novembro de 2009, a revista britânica The Economist colocou na capa a imagem-ícone do novo milagre brasileiro: um Cristo Redentor disparando triunfante rumo ao céu sob o título: “Brazil takes off” (Brasil alça voo). Para mim, a ficha caiu alguns meses depois. Zapeando na TV em um hotel em Londres, topei com uma grande reportagem sobre o Brasil. Entre outras coisas, ensinava-se como negociar com os empresários brasileiros (“não esqueça que eles gostam de conversa fiada e de contato físico!”). Era como se o futuro da realeza britânica dependesse da habilidade dos gringos de pegar carona no nosso futuro de bonança e prosperidade. A gente era o cara.

O pré-sal, a ascensão da classe C, o Eike bilionário ajudaram a reproduzir, entre nós, aquele repentino (e inédito) surto de otimismo. O Brasil era como aquela mocinha sem graça que passa o filme todo usando óculos e que um banho de loja subitamente revela a beleza escondida: PIB crescendo, distâncias sociais diminuindo, miscigenação, sincretismo, democracia. A gente estava começando a acreditar que podia ser mesmo o cara.

Foi outra capa da The Economist, em setembro de 2013, com o Cristo-foguete dando pinote, que assinalou o fim da farra do otimismo do resto do mundo com relação a nós – sem falar, obviamente, das manifestações de junho. Acabou o baile, e Cinderela voltou para o seu quartinho de serviço com a roupinha simples de sempre. Ao olhar externo crescentemente desconfiado da nossa capacidade de dar conta de eventos como a Copa e as Olimpíadas, veio se juntar um surto de pessimismo interno com o qual, mesmo nas piores situações, também não estamos tão acostumados. Nos últimos dias, declarações desesperançadas de artistas como Ney Matogrosso, que em uma entrevista em Portugal pintou um quadro tenebroso do Brasil, e Wagner Moura, que declarou que estava feliz por ir passar um tempo fora do país, deram voz a um desânimo que não é só deles e que não se explica apenas com análises políticas e econômicas: está no ar.

A boa (?) notícia é que o mal-estar contemporâneo não é só econômico ou político– e com certeza não é só brasileiro. É bem provável que o Brasil, na média, não esteja nem no fundo do poço nem flanando na estratosfera do futuro glorioso, mas a percepção cotidiana nem sempre é baseada apenas em dados concretos. O excesso de otimismo de 2009 com certeza contribuiu para o clima de ressaca moral e o baixo-astral generalizado que se instalou no país nos últimos tempos. A politização de todos os aspectos da vida cotidiana certamente acirra o clima de conspiração (se você é dos que defendem o governo) ou descalabro (se você é contra) que parece ter contaminado todas as conversas. Copa e eleições, por sua vez, fornecem a cortina de fumaça ideal para nublar ainda mais a visão sensata dos fatos.

Quem sabe, em 2015, a gente volte a morar naquele país com qualidades e defeitos, passado e futuro, em que o derrotismo abissal e o ufanismo abilolado não eram levados tão a sério assim.

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