VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

domingo, 22 de dezembro de 2013

PUXADORES DE VOTO

ZERO HORA 22 de dezembro de 2013 | N° 17652

JULIANA BUBLITZ


DA FAMA ÀS URNAS


Eles são ex-big brothers, craques aposentados (ou prestes a pendurar as chuteiras), cantores, atores e celebridades em geral – em alguns casos, nem tão “célebres” assim. Não importa. Para os partidos, artistas e atletas tornam-se objeto de assédio porque incorporam uma particularidade, decorrente da fama: são “puxadores de voto”.

Não por acaso, em outubro, quando terminou o prazo para a filiação de potenciais candidatos às eleições de 2014, as siglas engrossaram suas fileiras com uma constelação de famosos.

A lista inclui nomes que vão desde Robert Rey (o Dr. Hollywood, da Rede TV!) até Narcisa Tamborindeguy (socialite do programa Mulheres Ricas, da Band). Embora a campanha ainda esteja longe de começar, é impossível não associar as filiações ao fenômeno Tiririca, o palhaço que se elegeu com 1,3 milhão de votos em 2010.

A partir de bordões humorísticos como “vote no Tiririca, pior que tá não fica”, o artista conquistou a simpatia do eleitorado – inclusive dos adeptos do voto de protesto – e conseguiu uma cadeira na Câmara. De quebra, deu carona a outros candidatos do PR e ajudou a dobrar a bancada federal da legenda, à revelia de seus eleitores.

O efeito Tiririca é sonho de consumo da maioria das legendas – e parece se intensificar. Muito desse frisson, na avaliação do sociólogo José Luiz Bica de Melo, da Unisinos, é embasado na personalização do poder:

– As pessoas votam em nomes, não em siglas. Para maximizar o seu capital, os partidos perceberam que ter candidatos com visibilidade midiática abreviaria degraus. É por isso que todos querem um Tiririca.

E não são poucos os casos de eleitores seduzidos pelos rostos que conhecem da TV ou das revistas de fofoca. E a maioria não se preocupa com bandeiras, propostas ou posições ideológicas. Na era das celebridades, que pautam moda e ditam hábitos de consumo, um ator conhecido pode inspirar mais confiança do que qualquer outro candidato.

– O risco da banalização é tornar a discussão política rasa, porque qualquer famoso acha que pode ser candidato e se eleger. Muitos são bem intencionados, mas em geral tentam se aproveitar da fama para capitalizar votos, e são levados a isso pelos próprios partidos. O resultado é que a maioria acaba entrando sem sequer apresentar um projeto consistente – alerta a publicitária Gil Castilho, diretora das Associações Latino-americana e Brasileira de Consultores Políticos.

Querem poder, diz especialista

Votar em um famoso não significa necessariamente ser despolitizado. Há casos de afamados como os do ex-atacante Romário (PSB-RJ) – que conquistou o respeito dos colegas deputados na Câmara e de eleitores por não ter papas na língua – e do ex-BBB Jean Wyllys (PSOL-RJ) – referência na causa gay – que parecem ter dado certo, pelo menos por enquanto.

– É por essas e outras que não podemos subestimar a população – diz Melo, que leciona teorias políticas.

Mas o que leva tantas estrelas a entrarem na política? O psicanalista Abrão Slavutzky avalia:

– O que todos querem é poder. É sedutor e, tanto quanto a fama, viciante. Quem experimentou esse gostinho um dia, não consegue mais viver sem.

Não por acaso, muitos dos recém-filiados já viveram o ápice da fama e estão em decadência. São os ex: ex-BBB, ex-campeão, ex-cantor de sucesso.

– Ser um ex é uma ferida narcisista, e a forma de superar isso é voltar a ter visibilidade. Neste caso, pela política – conclui Slavutzky.



ENTREVISTA - “Os partidos buscam puxadores de voto”


Especialista em teoria política contemporânea e comportamento político, o professor Marcus Figueiredo, da Universidade do Estado do Rio (Uerj), vê com naturalidade o desejo das celebridades de tentar a sorte nas urnas. Segundo ele, “faz parte do jogo”. A seguir, confira trechos da entrevista.

Zero Hora – Como o senhor avalia esse casamento entre o mundo das celebridades e o da política?

Marcus Figueiredo – Faz parte do jogo. Os partidos buscam puxadores de votos. Temos vários exemplos na história.

ZH – E qual é o resultado?

Figueiredo – A maioria não dá certo, mas uma minoria dá, e muitos se tornam políticos importantes. Isso não é nenhum demérito. É claro que temos exemplos como o da Cicciolina (ex-atriz pornô eleita para o parlamento italiano nos anos 1980), que fez sucesso e depois desapareceu, e exemplos como o de Arnold Schwarzenegger (ator eleito governador da Califórnia em 2003) e o de Ronald Reagan (ator eleito presidente dos EUA nos anos 1980). Reagan era um ator de segunda categoria. Entrou na política, começou como deputado, virou governador e depois presidente.

ZH – Por que tantos famosos decidem tentar a sorte nas urnas?

Figueiredo – O cara adora um holofote, é convidado a se filiar, se entusiasma e entra. Mas, em geral, não faz nada e desaparece. É assim. Aqui temos o Tiririca. O que vai acontecer com ele? Provavelmente, não vai sobreviver. Mas também temos o Romário e outros que acabaram se tornando personagens importantes.

ZH – Mas o fato de virarem puxadores de voto não contribui para a crise de representatividade?

Figueiredo – É um dos principais fatores. Mas deve-se ponderar que, da mesma forma que Tiririca puxa voto e carrega com ele gente que não devia se eleger, José Dirceu também puxa voto e leva candidatos na carona. A questão é como o partido constrói sua nominata. E, geralmente, faz isso de forma deplorável. Se vamos demonizar alguém, é o partido.




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