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sexta-feira, 15 de novembro de 2013

PROPINA RESPINGA NA ELEIÇÃO

REVISTA ISTO É N° Edição: 2296 | 14.Nov.13


Investigação sobre máfia dos fiscais em São Paulo tumultua a relação entre o PT de Fernando Haddad e o PSD de Gilberto Kassab e ameaça acordo para a reeleição de Dilma. Lula é chamado para pôr fim à crise


Alan Rodrigues




BOMBEIRO
O ex-presidente Lula agiu, na última semana, para apaziguar os ânimos entre PT e PSD

Na quarta-feira 20, a presidenta da República, Dilma Rousseff, e o ex-prefeito de São Paulo Giberto Kassab se encontrarão no Palácio do Planalto. Presidente nacional do PSD, Kassab desembarca em Brasília em meio a uma crise política envolvendo o seu partido e o PT. O estopim foram as desavenças públicas com o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), por causa das investigações da máfia da propina na prefeitura paulistana. Na última semana, depois de Haddad afirmar, em entrevista, que herdou uma prefeitura degradada, em “situação de descalabro” e com “nichos” de corrupção “instalados e empoderados”, Kassab respondeu no mesmo tom, dizendo que “um descalabro” seria o primeiro ano de gestão do petista à frente da capital paulista. Kassab ainda acusou o petista de usar politicamente a investigação para desgastá-lo. O temor de Dilma é que a contenda política regional inviabilize a almejada aliança com o PSD de Kassab nas eleições presidenciais do próximo ano. Por isso, na conversa com o ex-prefeito de São Paulo, Dilma tentará jogar água na fervura da crise paulistana.



Não deverá, porém, ser uma conversa simples. A crise não se restringe às trocas de farpas públicas. Vereadores do PSD alegam ter sofrido represálias e perdido cargos em subprefeituras por terem votado contra o aumento do IPTU, proposto por Haddad. “Vamos querer os cargos de volta ou uma compensação”, declarou um parlamentar do PSD. Ciente de sua relevância no xadrez político, Kassab também cobrará que Haddad cesse os ataques contra ele. “O que causou indignação foram afirmações e ilações de que a corrupção não foi combatida em nossa gestão – embora sejam públicos os inúmeros casos em que agimos com resultados extremamente positivos. A investigação, como requer toda e qualquer denúncia anônima, foi iniciada pela Corregedoria-Geral do Município em setembro do ano passado”, disse Kassab em entrevista à ISTOÉ. “Aqueles que porventura se sintam acusados por não proteger o Estado no passado – seja pelo arquivamento de denúncias, seja pela não condução de um processo formal e consequente investigação – têm todo o direito de tentar se explicar”, devolveu Haddad, demonstrando que a negociação de um cessar-fogo entre os dois será mais complicada do que parece. Ocorre que os articuladores políticos do governo federal estão convencidos da importância da aliança de Dilma com o partido comandado por Kassab. O PSD possui 46 deputados federais e três minutos de tempo no horário eleitoral gratuito, fundamentais tanto para a reeleição de Dilma como para eventual apoio à candidatura do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, ao governo de São Paulo, no primeiro ou no segundo turno, caso Kassab seja candidato. Aliás, o PT conta com a candidatura de Kassab ao Palácio dos Bandeirantes, para facilitar a realização de um segundo turno. O principal objetivo do PT em 2014, além de reeleger a presidenta Dilma, é quebrar a hegemonia tucana no Estado.

A parceria com Kassab é considerada tão estratégica pelo Palácio do Planalto que até o ex-presidente Lula entrou em campo, na última semana, para serenar os ânimos políticos do PSD e evitar que a troca de chumbo respingasse em Dilma. Foi Lula quem articulou, em conversa com Kassab, uma indicação formal de aliança desde já. A pedido de Lula, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, também conversou com o ex-prefeito nos últimos dias. Embora não tenha havido qualquer promessa de que as investigações sobre a máfia dos fiscais pouparão Kassab, existe uma ala, mais próxima a Lula, que acredita que o partido, para consolidar a aliança com o PSD, deve abrandar as denúncias de corrupção que envolvam aliados do ex-prefeito. “Haddad tem que fazer seu papel de prefeito, de investigar, mas é preciso preservar as relações”, entende o deputado Vicente Cândido.



Na última semana, porém, as apurações se voltaram contra a própria gestão de Haddad. Na terça-feira 12, o principal dirigente petista com cargo na prefeitura, Antônio Donato, entregou o cargo de secretário de Governo, suspeito de envolvimento com a máfia dos fiscais da prefeitura. Donato é acusado de ter recebido, de dezembro de 2011 a setembro de 2012, uma mesada de R$ 20 mil de Eduardo Hole Barcelos, um dos fiscais presos no esquema milionário de fraude no ISS. O fiscal disse aos promotores que era “investimento futuro” para manutenção de cargos, se o PT vencesse as eleições. Donato negou. O problema maior, no entanto, foi que ele, a exemplo de Haddad, resolveu atirar no antecessor do prefeito. “Essa é uma crise do governo passado, que precisa explicar como um esquema desses ficou oito anos aqui dentro”, disse Donato. Como se percebe, mesmo com a intervenção de Lula e o interesse de Dilma em colocar panos quentes na crise, os ânimos estão acirrados.

Historicamente, os atritos não são uma novidade. A relação entre o PT e o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab nunca foi tranquila. Pelo contrário. Em 2012, apesar do esforço do Planalto e da cúpula petista por uma aliança nas eleições municipais, Kassab foi muito vaiado durante cerimônia de comemoração dos 32 anos do PT. Ao fim e ao cabo, o tucano José Serra decidiu concorrer à prefeitura e Kassab apoiou o PSDB. É tudo o que o Planalto não quer em 2014.


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