VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

domingo, 26 de maio de 2013

POLÍTICO TEM CONSERTO?


Apesar dos escândalos do mensalão e dos sanguessugas, quase 90% dos 513 deputados federais pretendem concorrer à reeleição em outubro. Isso sem falar no presidente e nos governadores que querem mais quatro anos. Então vamos às urnas renovar o quê? 

A pedido de Seleções, o Instituto Gerp entrevistou mil eleitores em 11 capitais brasileiras para saber o que sugerem os cidadãos que votam no próximo mês para tentar fazer o que o Congresso Nacional não fez - tirar de circulação os políticos que colaboram para a má fama de toda a classe. Depois, telefonamos para alguns deles a fim de entender melhor o que estão sentindo. Os resultados trazem grandes lições e algumas surpresas, inclusive boas. 

A desconfiança dos eleitores em relação aos políticos é tamanha que, entre as sugestões apresentadas, as mais votadas foram as ligadas à transparência (relatórios na Internet, transmissão pela TV das atividades do Congresso, publicação periódica em locais de fácil acesso das contas, salários e benefícios do presidente e de governadores, senadores, deputados, prefeitos e vereadores). 

"Hoje não é mais possível ter fé em nenhum partido. Tem gente ruim e gente boa espalhada em cada um deles", diz o ponderado Devanir Vieira dos Santos, 40 anos, vendedor autônomo de Manaus. No outro extremo do país, a comerciária gaúcha Karen da Rosa, 19 anos, muda o tom, mas não o sentimento: "Só muda a sigla do partido. Nenhum tem credibilidade." 

Mas só acompanhar os passos dos políticos não é suficiente. O que os eleitores querem também é pôr a mão na massa: sonham com uma participação maior da população, por meio de debates, audiências públicas e mecanismos da democracia direta, como plebiscitos e referendos. 

A cientista política gaúcha Elizabeth Pedroso, entusiasta de uma maior participação política da população, lembra que o orçamento participativo, um mecanismo típico da democracia direta, já é praticado em Porto Alegre e com resultados positivos. "As pessoas criam novas formas de participação quando outras demonstram estar enfraquecidas." 

Renato Janine Ribeiro, professor de Ética e Filosofia Política da USP, também acredita que a participação popular traz benefícios para a democracia, mas alerta: "Não podemos nos iludir achando que só transparência e mecanismos de participação são suficientes para a mudança. A falta de confiança da população chegou a limites extremos." O filósofo lembra que o mecanismo de consulta popular já foi usado duas vezes no Brasil (com o referendo sobre porte de armas, ano passado, e o plebiscito sobre regime de governo, em 1993), mas sem que fosse explorado ao máximo. 

Mas ele é otimista em relação às possibilidades da Internet para a publicação de relatórios e contas públicas. "A Rede é uma ferramenta mais poderosa do que os jornais, por exemplo, com uma grande capacidade de acumular informações. Ainda vai ser muito útil no controle de qualidade dos nossos representantes." 

Outros assuntos que estão na cabeça do eleitor são a desigualdade do processo eleitoral (por exemplo: orçamentos de campanha díspares, divisão desigual no tempo destinado a cada partido na propaganda eleitoral gratuita), o tempo de duração do mandato e a reeleição, embora sobre estes dois últimos temas não se tenha chegado a um consenso. "Seria válido aumentar o mandato do presidente para seis anos porque assim a briga política ia ser menor e eles iriam cuidar do trabalho", acredita Caio Marcos Amaral Riebold. O estudante de 18 anos, que vai tentar no fim do ano vestibular para Direito na Universidade de Brasília, no entanto, faz uma resalva: "Mas também seria necessário acabar com a reeleição. Quem está dentro, sempre acaba fazendo uso da máquina." Muitos, como Juliana Pereira, 21 anos, estudante de Medicina de Belo Horizonte, não são favoráveis ao aumento do tempo do mandato nem à reeleição: "O tempo não importa. O que falta aos políticos é consciência para exercer o papel que lhes cabe." 

Interesses 

Sessenta e um por cento dos pesquisados acreditam que os políticos defendem em primeiro lugar os próprios interesses. Apenas 26% acham que cuidam também dos interesses dos eleitores. É claro que atitudes como as férias disfarçadas que os parlamentares se concederam nesses meses de campanha, quando realizam apenas três sessões de votação a cada mês (com salário integral) - protelando a discussão de projetos fundamentais para cuidar de suas campanhas -, colaboram para esse descrédito. Sandro Américo de Moura, 31 anos, técnico em radiologia de Belo Horizonte, não tem dúvidas de que os deputados cuidam antes deles do que dos eleitores. "É só ver as verbas e os aumentos que se dão de um dia para o outro, sem mais nem menos. Isso não é do interesse público." O contador Jesiel Lopes, 36 anos, de Curitiba, concorda: "Eles legislam em causa própria. Depois que se elegem, só cuidam do interesse próprio e do grupo deles. Se é um empresário, vai tentar diminuir o imposto que sua empresa paga..." 

Dignos de crédito 

Nem tudo está perdido, porém. Os eleitores ainda sabem em quem confiar. No topo do ranking de credibilidade da pesquisa, as ONGs (organizações não governamentais) e a Igreja foram as únicas instituições que alcançaram nota acima de 7. "Aqui em Salvador, a gente vê que o trabalho de algumas ONGs dá resultado", diz a vendedora Daniela Beta de Andrade, 21 anos. 

"As ONGs contam com um respeito muito grande e simbolizam os nossos melhores valores éticos", afirma Janine Ribeiro. "Mas é necessário observar quais entre elas fazem realmente um trabalho efetivo. O dinheiro que usam também é público e, no entanto, não é auditado." 

Tradicionalmente vista com certa desconfiança, a imprensa vem ganhando crédito junto à população, em especial a televisiva. Os noticiários de TV alcançaram a média de 6,81, superior, por exemplo, à credibilidade de que desfruta o presidente Lula (5,86). "A gente fica apavorado com o que vê", admite o funcionário público aposentado José Félix da Silva, 68 anos, do Rio de Janeiro. "Mas não há como duvidar das barbaridades que são noticiadas." O jornalista Ricardo Noblat, que atua em outra mídia, a Internet, diz: "A TV é o primeiro e o segundo meio de informação de três em cada quatro eleitores." 

A boa notícia 

No meio desse quadro de descrédito, porém, o eleitor demonstra interesse pelas eleições - durante a Copa do Mundo, mais de 54% já haviam discutido o tema com amigos e parentes, ainda que o evento esportivo tenha adiado o início de fato das campanhas. Para Hercules Távora, 26 anos, que é chaveiro em Brasília, a política é um tema cotidiano. "Eu converso sempre nas rodas de amigos e com meu pai. Antes falávamos de ideais, mas atualmente o assunto maior é mesmo a corrupção." 

Um número, no entanto, indica que o brasileiro não perde a esperança de conquistar um sistema político mais confiável: só 1% dos eleitores pretende anular o voto, apesar das campanhas que pregam esse tipo de protesto. "Eu acredito que é na eleição que a gente tem chance de avaliar o que foi feito e tentar melhorar nossa representação", diz José Cristiano de Andrade Silva, 33 anos, corretor de imóveis e seguros de Recife. "Não vai ser com voto nulo que vamos mudar nada", completa a gaúcha Karen da Rosa. 

Os estudiosos da política fazem coro com a população. "O voto nulo não altera nada do quadro", diz a cientista política Elizabeth Pedroso. "Quem vota nulo deixa de contribuir para a derrota dos piores candidatos", finaliza Claudio Abramo, que dirige a Oscip (organização da sociedade civil de interesse público) Transparência Brasil. "Estou convencido de que se pode tomar atitudes como melhorar a legislação e ter um Judiciário mais participativo, mas a melhor limpeza, a mais eficiente é aquela feita pelo eleitor, na hora do voto." 

O TSE relaciona em seu site (www.tse.gov.br) os 19 mil candidatos que participam do pleito de outubro, com nome, dados pessoais, a lista completa dos seus patrimônios declarados e quanto pretendem gastar na campanha. 

A organização Transparência Brasil (www.transparencia.org.br/index.html) veicula na Internet um banco de dados com o histórico de vários políticos e a lista dos processos a que eles respondem nos Tribunais de Contas. 


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