VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

domingo, 20 de janeiro de 2013

O PODER DOS ESCÂNDALOS

20 de janeiro de 2013 | N° 17318

EDITORIAIS

Por que o Legislativo brasileiro, em todas as suas instâncias, produz tantos escândalos? Senadores, deputados federais, deputados estaduais e vereadores, além de diretores e servidores das casas legislativas, têm sido personagens frequentes de notícias sobre desvios de recursos, uso indevido da máquina pública, viagens desnecessárias à custa dos contribuintes, nepotismo e até mesmo mercantilização de votos por dinheiro, cargos ou outras benesses. Não passa semana sem que o Congresso Nacional e os parlamentos estaduais ou municipais apareçam em manchetes negativas. Por conta desta exposição constante e pouco edificante, criou-se no país o conceito popular de que política é sinônimo de corrupção. O curioso e paradoxal desta generalização é que todos os parlamentares, sem exceção, só estão em seus cargos porque foram eleitos pelos cidadãos que os criticam.

Aliás, esta tem sido a defesa dos políticos mais lúcidos. Eles dizem que as casas legislativas são a exata representação da sociedade no que se refere a honestidade e desonestidade. Se olharmos para o nosso dia a dia, para nossas relações de família, trabalho e vizinhança, certamente veremos muitas irregularidades e deformações – ainda que não nos pareçam tão graves quanto aquelas cometidas por governantes e autoridades. Só que, tanto nos pequenos quanto nos grandes delitos, o princípio ferido de morte é o mesmo: a decência.

Porém, como disse o ex-governador mineiro Milton Campos, falar mal do governo é tão bom, que não deveria ser privilégio só da oposição. Mais atraente ainda parece ser baixar a lenha nos deputados e senadores. Não que eles não mereçam, às vezes. Só no ano recém terminado, o Monitor de Escândalos – espaço do blog do jornalista Fernando Rodrigues, referência na implantação da Lei de Acesso à Informação no país – registrou 38 casos de desvio de conduta no Congresso Nacional, entre Câmara e Senado. E apenas o senador Demóstenes Torres, envolvido com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, perdeu o mandato. Dá para defender uma turma dessas?

Talvez não dê. Mas, para sermos justos, é preciso reconhecer que o Legislativo é o mais vigiado e também o mais transparente dos poderes. A mídia acompanha com lupa o movimento dos parlamentares, mas nem sempre tem acesso aos bastidores do Executivo e raramente investiga a fundo o Judiciário, até mesmo por temer reações desproporcionais que, infelizmente, são rotineiras em nosso país. Além da vigilância maior, o parlamento é submetido ao reexame dos eleitores a cada final de legislatura. É, portanto, o poder que representa a sociedade com maior fidelidade. Até por isso, da mesma forma como os cidadãos são obrigados a se submeter às leis e às regras sociais, independentemente da índole de cada um, é impositivo que o parlamento seja constantemente subordinado a mecanismos eficientes de controle e transparência.


COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Um dos estímulos à impunidade do poder político está nesta curiosidade apontada no Editorial - "O curioso e paradoxal desta generalização é que todos os parlamentares, sem exceção, só estão em seus cargos porque foram eleitos pelos cidadãos que os criticam." Assim como não existem leis e nem uma justiça forte para enfrentar  o poder político, não há no Brasil uma cultura contra imoralidades, e estes fatores transformam os eleitores em cidadãos impotentes para mudar o comportamento político, passando a aceitar como comum (ficam só nas críticas) as improbidades, os atos secretos, as imoralidades, as farras, a corrupção, a sonegação e a pirataria. No voto, o eleitor nem se dá o trabalho de analisar o programa e a probidade do partido de seu candidato, ainda mais de um candidato que lhe favorece ou pode favorecer. Como sou um visionário, acredito que podemos chegar ao nível do cidadão americano e italiano (para ficar no ocidente) que mudaram a postura e começaram a exigir probidade no parlamento, leis rigorosas e uma justiça coativa, e só assim conseguem recuperar recursos desviados e enfrentar a máfia, a corrupção e o crime a partir do menor potencial ofensivo.



O editorial foi publicado antecipadamente no site e no Facebook de Zero Hora, na sexta-feira. 

Os comentários selecionados para a edição impressa mantêm a proporcionalidade de aprovações e discordâncias entre as 54 manifestações recebidas até as 18h de sexta. A questão proposta aos leitores foi a seguinte: Editorial diz que o Legislativo produz mais escândalos por ser mais vigiado. Você concorda?

O leitor concorda

Obviamente o Poder Legislativo brasileiro é o que mais tem escândalos justamente por ser mais vigiado. Ou alguém acha que os outros poderes não são corruptos, não desviam dinheiro e são extremamente honestos? É claro que não. Nada disso, no entanto, pode servir de defesa aos políticos do Legislativo. Eles são eleitos pelo povo de acordo com o que colocam em suas campanhas eleitorais, mas durante os mandatos são totalmente diferentes: não cumprem as promessas e nem propõem soluções para a sociedade brasileira. Andreas Richter Weber Porto Alegre (RS)

Concordo, mas, apesar de as eleições acontecerem por voto direto, não acho que o Legislativo e o Executivo representem tão bem o povo, porque muita gente vota sem conhecimento ou se diz apolítica. A corrupção não existe sozinha, não está personificada em uma única figura, e votar bem (para mudar isso) significaria dar educação política desde cedo. De novo, o problema da educação.Filipe Cieslak, Sapucaia do Sul (RS)

Se a imprensa vigiar o futebol, cooperativas, ONGs, grandes empresas, certamente encontrará as mesmas falcatruas que são encontradas na esfera pública. Sonegar impostos, por exemplo, também é corrupção. Flávio Pauli, Medianeira (PR)

Concordo. Mas tanto faz cuidar ou não cuidar, eles não tem vergonha na cara e não estão nem aí se alguém chamá-los de ladrões, porque roubar é o que eles fazem mesmo. Se não gostarem, digam o contrário e provem que não roubam. Vou ficar esperando sentado que é para não cansar muito. Mas não é só no Legislativo não, começa lá em cima e a cachoeira da corrupção corre morro abaixo. Viva a impunidade! Milton Ubiratan Rodrigues Jardim, Torres (RS)


O leitor discorda

Produz mais escândalos porque é um local fértil para isso. Ou são corruptos, ou estão na fila para entrar. Carlos Alberto Taffarel, Jaboticaba (RS)

Discordo plenamente. É que eles sabem da impunidade, e assim ficou muito facilitado para eles. E isto lamentavelmente está virando rotina. Silvio Rodrigues de Oliveira Torres (RS)

Não concordo. Normalmente o dinheiro é foco de disputas e intrigas em corporações, famílias e outros centros. Imagina em um lugar como o Legislativo, em que, além de decidir seu destino e suas aplicações, o dinheiro em questão vem do contribuinte? Se essa função fosse destinada a outro poder, só mudaria de endereço e de personagens, mas o enredo e os escândalos seriam os mesmos. Juliano Pereira dos Anjos Esteio (RS)

Nenhum comentário: