VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

ENTRE O FALAR E O FAZER

EDITORIAL ZERO HORA, 30 de maio de 2012 

O senador Demóstenes Torres caprichou na oratória durante o seu depoimento de cinco horas no Conselho de Ética do Senado, negou a maioria das acusações, admitiu pequenos deslizes (como ter recebido um telefone de presente do contraventor Carlos Cachoeira), fez o papel de vítima e até assumiu a condição de carola. Também procurou transferir responsabilidades, denunciando uma suposta conspiração da Polícia Federal e do Ministério Público para prejudicá-lo. Disse que foi traído pelo bicheiro e que desconhecia suas atividades ilegais. Na mais inverossímil de suas afirmações, o parlamentar garantiu que estava fazendo um teste quando avisou o contraventor sobre suposta operação da Polícia Federal – com o propósito de descobrir se ele ainda se mantinha ligado aos jogos ilegais.

Falou muito o senador acusado de usar o mandato para beneficiar um delinquente. Para culminar, buscou em sua defesa um samba antigo do compositor Ismael Silva, que se inicia com o verso “nem tudo que se diz se faz”. Tentou, assim, desqualificar as gravações comprometedoras de suas conversas com o empresário Carlos Cachoeira. “Que eu seja julgado pelo que eu fiz, não pelo que falei que iria fazer” – bradou para os integrantes do Conselho, que tomarão a primeira decisão sobre a provável cassação de seu mandato.

Talvez tenha marcado um gol contra. Se ele não quer ser julgado pelo que fala, todo o esforço que fez ontem para convencer seus pares terá que ser desconsiderado, até mesmo porque o discurso pensado, planejado, elaborado para persuadir, tende a ser menos autêntico do que o flagrante de uma gravação em que os interlocutores não sabem que estão sendo ouvidos por terceiros. E, pelo que já se conhece dos trechos divulgados, há o suficiente para caracterizar quebra de decoro parlamentar, pelo dito e pelo feito.

AMIGO DO BICHEIRO

Depoimento expõe contradições. Demóstenes negou ser operador de Cachoeira e ter recebido valores do contraventor, mas declarações contrastam com grampos.

Cada senador recebe, além do salário de R$ 26,7 mil, uma verba indenizatória mensal de R$ 15 mil para custear gastos do gabinete, como telefonia, alimentação e hospedagem. Ainda assim, Demóstenes Torres (ex-DEM) disse ontem não ver problema algum em usar telefone bancado pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira. Essa é uma das contradições do depoimento do parlamentar goiano ao Conselho de Ética da Casa.

Relator do processo de cassação de Demóstenes, Humberto Costa (PT-PE) considerou o fato “pouco usual”. É do petista a responsabilidade de recomendar a perda ou não do mandato do colega envolvido com o contraventor. Ele pretende apresentar as conclusões em três semanas.

– Se sabe que tipo de conduta é incompatível com a ética e a moral no trabalho parlamentar e, sem dúvida, essa é uma questão que precisa ser muito bem analisada. Não é usual que um senador conceda a uma pessoa claramente vinculada à contravenção a oportunidade de lhe presentear com um telefone – afirmou Costa.

Não foram poucas as incongruências de Demóstenes durante a sessão (veja quadro). Para tentar se defender das acusações de envolvimento com o bicheiro, se disse “carola”, “pai de família” e vítima de depressão. Para a Polícia Federal, o senador é o principal articulador político de Cachoeira, preso por suspeita de exploração ilegal de jogos, lavagem de dinheiro e corrupção.

Senador confirma lobby em favor de laboratório

O senador negou ter agido em defesa dos interesses do contraventor e ter recebido dele R$ 3,1 milhões. Uma ligação gravada pela PF, porém, mostra ambos discutindo um projeto de lei que transforma em crime jogos de azar. Demóstenes também negou ser sócio oculto da Delta. Diálogos captados em 2011, porém, indicam que ele negociou para que a prefeitura de Anápolis (GO) pagasse R$ 20 milhões à empreiteira.

O senador confirmou que recebeu inúmeros pedidos de Cachoeira, inclusive para fazer lobby em favor do empresário no Congresso e no governo. Demóstenes reconheceu que foi à Anvisa pedir em favor da empresa farmacêutica do empresário, mas disse que repetia essa conduta para várias empresas de Goiás:

– Nem tudo que se diz, se faz. Às vezes, para se livrar de um interlocutor, de uma conversa. Muita coisa não aconteceu porque eu não fui atrás.

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