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segunda-feira, 21 de maio de 2012

CPI DO BATE-BOCA ACALORADO

REVISTA ISTO É N° Edição:  2219, 21.Mai.12 - 17:53

Muito barulho por nada

Sessões da CPI do Cachoeira são marcadas por bate-bocas acalorados, mas um acordo entre os partidos não deixa que as investigações sobre as relações do bicheiro com políticos e empresários avancem de verdade

Izabelle Torres

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NO RINGUE
Os senadores Fernando Collor e Pedro Taques
protagonizaram o primeiro bate-boca da CPI
Criada para investigar as relações do bicheiro Carlinhos Cachoeira com políticos e empresários, a CPI do Cachoeira até agora pouco avançou. Na primeira semana de depoimentos, os debates foram dominados pela troca de acusações entre integrantes da Polícia Federal e a Procuradoria da República. Já a aguardada audiência de Cachoeira, inicialmente marcada para a terça-feira 15, foi adiada por causa de uma liminar acolhida pelo ministro do STF, Celso de Mello. Na quarta-feira 16, parlamentares de governo e oposição costuraram um conveniente acordão para postergar ao máximo o depoimento de governadores do PSDB, PT e PMDB citados no inquérito da Operação Monte Carlo, restringindo o foco das investigações a personagens menores do esquema. “Só chamaram os bagrinhos. Os importantes mesmo estão de fora”, criticou a senadora Kátia Abreu (PSD-TO). Também mandaram direto para o arquivo os pedidos de quebra de sigilo das contas da Delta em todo o País, com exceção da região Centro-Oeste. A decisão livra os tucanos de sofrer constrangimentos em São Paulo e os peemedebistas no Rio de Janeiro. “Não há chance de a CPI avançar. Não vejo interesse nos partidos”, reconhece o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE). Enquanto a apuração engatinha e não há demonstrações contundentes de que o esquema de Cachoeira será investigado a fundo no Congresso, os parlamentares aproveitam os holofotes proporcionados pela CPI para produzir barulho. Apenas barulho.

Desde o início dos trabalhos, no fim de abril, as discussões entre parlamentares são uma constante e os bate-bocas se transformaram num espetáculo à parte. Os integrantes da CPI divergem sobre tudo e começam a transformar o ambiente de trabalho em um ringue repleto de acusações e xingamentos. A reunião secreta que ouviu o delegado Matheus Mella, responsável pela Operação Las Vegas, foi um exemplo da beligerância. Durante o depoimento, pelo menos três discussões acirradas aconteceram a portas fechadas. A mais áspera envolveu o deputado Ônyx Lorenzoni (DEM-RS) e o senador Humberto Costa (PT-PE). Ao descobrir que os advogados de defesa dos acusados assistiam ao depoimento, o deputado do DEM reclamou: “Precisamos ter mais ordem aqui. Isso, daqui a pouco, vai virar um circo”, disse. Na penúltima fileira, o senador petista respondeu que o deputado já era um palhaço de circo. Ônyx levantou-se e gritou com o dedo em riste: “O senhor é um sanguessuga!”, numa referência ao escândalo nas compras de hemoderivados, quando Costa era ministro da Saúde. De acordo com relatos dos políticos que participavam da sessão secreta, o delegado ficou constrangido com o bate-boca e o clima cordial demorou a ser restabelecido.
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Na semana inaugural dos trabalhos, o senador Fernando Collor (PTB-AL) protagonizou o primeiro bate-boca entre integrantes da CPI. Decidido a defender o sigilo dos documentos sobre as relações de Cachoeira, o senador reclamou que deputados vazavam informações. Foi interrompido pelo senador Pedro Taques (PDT-MT): “Estamos aqui numa brincadeira da carochinha! O inquérito inteiro está na internet. Nenhum parlamentar pode ser responsabilizado por vazamento. Falar em sigilo é hipocrisia.” Collor ficou vermelho, franziu a testa e impostou a voz: “Não há uma posição hipócrita, nem safada, de quem quer que seja aqui! Hipócritas são aqueles que fornecem informações por debaixo dos panos para alguns confrades e fazem uso dessas informações como lhes convier!”

As divergências entre os integrantes da CPI também têm por trás brigas paroquiais dos Estados. Inimigos em Campina Grande (PB), os senadores Vital do Rego (PMDB-PB) e Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) estão se controlando para a temperatura não subir. Esforço que tem dado certo na frente dos holofotes, mas que não resiste aos ânimos exaltados nas reuniões sigilosas. Foi assim durante o depoimento do delegado Raul Alexandre Sousa na terça-feira 8. Cunha Lima também provocou o relator Odair Cunha (PT-SP), ao ressaltar que as decisões do colegiado eram um retrato do jogo político que o PT pretende fazer. Transtornado com a iminente convocação do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), o senador da Paraíba não poupou críticas ao relator, a quem acusa de manipular o andamento das investigações. A convocação de Perillo também foi motivo de um bate-boca público entre o senador Randolfe Rodrigues (Psol-AP) e o deputado Silvio Costa (PTB-PE).

Com tantos parlamentares e partidos constrangidos com as investigações do esquema comandado pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira, é natural que os ânimos estejam exaltados. O problema é se esses bate-bocas se transformarem numa grande cortina de fumaça destinada a mascarar a ausência de investigação. Um sms enviado pelo deputado petista Cândido Vaccarezza (SP) ao governador do Rio, Sérgio Cabral, ilustra bem o clima de acordão reinante na Comissão. “A relação com o PMDB vai azedar na CPI. Mas não se preocupe. Você é nosso e nós somos teu”. Com tanta discussão, pouco consenso e falta de empenho para apurar o alcance das relações de Cachoeira com políticos e empresários, a CPI corre o risco de perder o foco.

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