VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

domingo, 5 de junho de 2011

DEFORMAÇÕES DA POLÍTICA

EDITORIAL ZERO HORA 05/06/2011

Por pressão da bancada religiosa, o Executivo suspendeu recentemente a distribuição para as escolas públicas do chamado kit anti-homofobia. Por pressão da bancada ruralista, o projeto do novo Código Florestal foi completamente desfigurado antes de ser encaminhado ao Senado. Até uma bancada de ex-presidentes do país emergiu esta semana, quando José Sarney tentou preservar Fernando Collor da exposição das imagens do impeachment. Esses são apenas alguns exemplos reveladores de que o Congresso Nacional, como afirma o senador Cristovam Buarque, transformou-se mesmo num Arquipélago de Corporações – voltadas muito mais para causas de grupos específicos do que para os interesses dos cidadãos que os parlamentares deveriam efetivamente representar.

O corporativismo invariavelmente se impõe sobre as vinculações partidárias e sobre os compromissos dos políticos com o conjunto dos eleitores. A deformação começa na campanha eleitoral: dificilmente um parlamentar se elege sem o apoio (e as doações financeiras) de grupos organizados. Como não existe almoço grátis, o eleito passa a representar prioritariamente o seu patrocinador, mesmo que suas causas sejam bem diversas das orientações programáticas de suas agremiações. Na verdade, a identidade ideológica já nem faz mais parte da cultura política do país, tanto que parlamentares e governantes mudam de agremiação como quem troca de camisa. E, quando não encontram uma sigla disponível, fundam uma – de preferência que não seja nem de esquerda, nem de direita, nem de centro, para caber mais gente.

Mas há coisa pior do que esse corporativismo desregrado. O que mais fere o cidadão interessado no aperfeiçoamento da democracia são dois outros “ismos”, o clientelismo e o fisiologismo, que comumente derivam para a corrupção. Mesmo depois de escândalos que abalaram o país, como o mencionado impeachment e o mensalão, Executivo e Legislativo continuam mantendo uma relação de promiscuidade, sustentada pela barganha e pela troca de favores. A base de apoio do governo alimenta-se da liberação de verbas de emendas parlamentares, da nomeação de apadrinhados para cargos públicos e da satisfação das demandas de seus currais eleitorais.

Não há uma verdadeira independência entre os poderes. Há, isto sim, uma espécie de escambo, em que as partes em negociação valem-se de mercadorias que nem sequer lhes pertencem – os recursos públicos, os cargos na administração e as obras que deveriam beneficiar a maioria da população. Algumas dessas deformações, especialmente o corporativismo, também atingem outros poderes e outras instituições, ocupados por servidores que se preocupam basicamente com seus interesses e muito pouco com a nação.

Diante de tal quadro, não se pode estranhar que o cidadão comum manifeste seguidamente seu desencanto com a política e com as ações de seus representantes nos governos, nos parlamentos e em outros estamentos da administração pública. Mas há um consolo: tantas mazelas só ficam evidenciadas porque vivemos numa democracia, regime que contém os próprios corretivos para suas deformações. Falta-nos, talvez, aplicá-los.

A questão proposta aos leitores foi a seguinte: Você concorda que a democracia permite corrigir as deformações da política?

O leitor concorda

Concordo que a democracia é uma ferramenta para as modificações e aperfeiçoamentos de nossa sociedade. Entretanto nossa representatividade, seja por representantes eleitos ou por sindicatos das categorias laborais, fica anulada pelas questões político-partidárias que em nada têm a ver com o interesse do povo, e sim com interesses próprios e ou da manutenção do status quo. Hoje, com o incremento da informática e acesso à internet, temos visto mundo afora ditadores sendo destituídos de seus encastelamentos e mudanças atribuídas a sites sociais e união popular contra desmandos, má gestão, enriquecimento ilícito etc. Nosso sistema de governo é deformado, pois cabe ao Executivo arrecadar, administrar e executar obras e serviços, e os poderes Legislativo e Judiciá- rio, com autonomia financeira e administrativa, não têm em regra restrições a gastos públicos, sendo inclusive diferenciados os valores pagos aos servidores, sobrando migalhas aos servidores do Executivo. José Antonio Thume – Porto Alegre

O sistema democrático permite corrigir as distorções da política, para isso os órgãos de classe organizados como CNBB, OAB, igrejas evangélicas, ABO, entre outros, devem se envolver e ajudar a população para formar opinião, a fim de corrigir tantas distorções da política brasileira, que têm o propósito de confundir os eleitores e manter as coisas como estão.Mauro José Gradin – Erechim (RS)

O leitor discorda

Não. Isso é só balela. Democracia é outra coisa. Estão confundindo protecionismo, apadrinhamento, anistia a corruptos e outras barbaridades que nada têm a ver com governar para o povo. O sistema de governo no Brasil deve ter outro nome, os poderes atuam diferente dos de um país democrático. Renato Mendonça Pereira Alvorada (RS)

Não. A democracia funciona como legitimação da corrupção e do clientelismo político. A degradação política começa em casa, com a nossa omissão perante as urnas. Quem já não votou em alguém por dever um favor ou na esperança de conseguir algo? A política brasileira é um reflexo da cultura do “jeitinho brasileiro” que, inclusive, é produto de exportação. Não se pode cobrar o que não se pratica em casa. Pablo Stockel – Canoas (RS)

Não concordo, pois nossos políticos só querem defender seus próprios interesses, esquecendo-se do compromisso que firmaram com seus eleitores. Lucas Serdotti São Pedro do Sul (RS)

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - A política brasileira parece retratar um grupo profissional de políticos que dão as cartas e determinam estratégias de aliciamento dos novos mandatários com troca de favores, composição corporativa, cotas em emendas e privilégios partidários, pessoais e familiares. Neste cenário "hipotético", uma "corrupção moral" impõe o voto, o posicionamento, as vinculações e compromissos voltados aos interesses privados, submetendo o interesse público com descaso, omissão e promessas muitas vezes não cumpridas ou aplicadas de forma superficial. Quem não entra no jogo fica isolado, perde espaço político, verbas para suas bases e confiança do grupo.

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