VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

domingo, 20 de março de 2011

A CRIATURA PARA SEUS CRIADORES


PRESTÍGIO SOB SUSPEITA. Como Paulo Aguiar se tornou Paulo Pardal - GUSTAVO AZEVEDO E JOSÉ LUÍS COSTA, Zero Hora 20/03/2011

Profundo conhecedor de tudo o que envolve o sistema de controladores de velocidade, Paulo Sérgio Vianna Aguiar era considerado o técnico do governo estadual mais preparado no assunto. Flagrado em um suposto esquema de fraude contra os cofres públicos, foi afastado de suas funções e,na sexta-feira, preso.

Sempre que se fala em controlador de velocidade no Rio Grande do Sul, um nome é lembrado: Paulo Sérgio Vianna Aguiar.

A fama é tão grande que o funcionário do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) é chamado entre os colegas de Paulo Pardal. Aguiar ganhou esse apelido por ser considerado o mais preparado técnico do governo gaúcho no assunto. Desde a semana passada, por causa da divulgação de um esquema de fraudes contra cofres públicos, está afastado da coordenação dos Sistemas Eletrônicos de Operação Rodoviária. Na sexta-feira, teve sua prisão decretada e foi encaminhado ao Presídio Estadual de Júlio de Castilhos.

Ao aparecer em uma reportagem exibida domingo passada pelo Fantástico, ensinando como burlar licitações de pardais, Aguiar deixou escorrer pelo ralo seu prestígio de especialista em controle de trânsito. Desde 1998, quando o governo gaúcho implantou os primeiros controladores em estradas, ele capitaneou projetos e estabeleceu diretrizes. É atribuída a Aguiar a ideia de acoplar câmeras aos pardais para fotografar o movimento nas estradas e enviar as imagens para o site do Daer.

– Era um espécie de protótipo de monitoramento eletrônico das rodovias, lá em 2005, coisa comum nos dias de hoje – recorda um ex-colega.

Também teria saído da cabeça de Aguiar a montagem do pardal inteligente, que consegue ler as placas e alertar ao posto policial mais próximo se o veículo é roubado, furtado, se está com licenciamento vencido ou se tem ordem de busca e apreensão.

– É um apaixonado. Vive para isso. Conhece todo o sistema, o equipamento, a operação, o processamento dos dados, as multas, a legislação. Por isso se distinguiu – ressalta um antigo integrante da direção do Daer.

Nascido em Tupanciretã há 53 anos, dois casamentos e três filhos, Aguiar é funcionário de carreira do Daer desde agosto de 1978, quando ingressou como agente rodoviário – cargo de nível médio, espécie de auxiliar de engenheiro. Mas há pelo menos 12 anos exerce funções de chefia. Sua relação com o trabalho era tão estreita que chegou a se mudar para uma casa que pertence ao Daer ao lado do prédio onde coordena os controladores, em Esteio.

Em janeiro de 1987, graduou-se engenheiro eletricista na PUCRS, mas segue até hoje classificado como agente rodoviário. Organizado e metódico, fez curso de especialização em engenharia de trânsito e, à medida que foi se aperfeiçoando, criou raízes no poder. Começou no final do governo de Antônio Britto e manteve-se nos seguintes – Olívio Dutra, Germano Rigotto e em boa parte da administração Yeda Crusius – dando as cartas sobre pardais.

Fama de elegante e inteligente

Sua fama ultrapassou os limites do Estado. Deu palestras em todo o Brasil, inclusive para o Ministério dos Transportes. Integrou câmaras setoriais do Conselho Nacional de Trânsito, órgão responsável por criar regras para o trânsito, inclusive pardais. Amigos e colegas ressaltam a inteligência e elegância. Gentil e polido no trato pessoal, chamava a atenção ao chegar, seja onde fosse, pelos cabelos alinhados, roupas e calçados impecáveis.

– Diziam que ele tem um cinto para combinar com cada sapato – recorda um servidor do Daer.

Em 2004, durante a CPI dos Pardais, compareceu às reuniões para defender os controladores, apesar da forte pressão de deputados contra os aparelhos. O prestígio e a posição de destaque não impediram, porém, que ele ingressasse, em 2006, com uma um ação trabalhista contra o Daer. O processo ainda tramita na Justiça do Trabalho.

Para ex-colegas, o serviço público ficou pequeno demais para as ambições de Aguiar. Em 2008, ele fundou a empresa de consultoria ACT-Trânsito com o engenheiro João Otávio Marques Neto e a funcionária do Detran Gisele Mari Vasconsellos da Silva, que também aparecem como suspeitos na reportagem do Fantástico. Com a ACT, fecha contratos com prefeituras para assessorar a instalação de pardais. A sede da ACT, no papel, é um apartamento residencial no bairro Cidade Baixa, na Capital. Na prática, funcionava nos escritórios do Daer e de outros órgãos envolvidos no suposto esquema.

Nenhum comentário: