VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

domingo, 23 de janeiro de 2011

O WIKILEAKS GAÚCHO

O WikiLeaks gaúcho, por Moisés Mendes, jornalista - zero hora 23/01/2011

Esta é do tempo dos comícios. Políticos em fila discursavam num palanque em Uruguaiana lá nos anos 80. Em pé, um homem na plateia gritava: ladrão. Não apupava a todos. Escolhia os que identificava como alvo. Até que dois brigadianos o retiraram dali. O homem retornou uns 10 minutos depois e voltou a gritar: ladrão. Simpatizantes reagiram e os brigadianos pegaram o gritão pelo braço. Sumiram com o homem.

Um baixinho de boné assoprou ao redor, com a mão em concha na boca: ele sabe o que está dizendo. Devia saber. Assim como Julian Assange, o homem do WikiLeaks, é sabedor do que diz. Assange criou um site para apontar cínicos, corruptos e facínoras engomados. Depois de uns dois meses de impacto do portal, Assange é como o identificador de ladrões em comícios de Uruguaiana. Perturba, constrange, mas não abala, não tira ninguém do palanque.

Assange prova o que tem com documentos. O homem de Uruguaiana tinha a intuição e indícios. Assim como os brigadianos deram um sumiço no acusador, Assange também já foi levado pelo braço. O fronteiriço estaria perturbando a ordem pública ao apontar os ladrões provinciais. Assange, preso sob a acusação de assédio sexual, pode ser um perturbador da ordem mundial ao denunciar gângsteres graúdos.

O problema, tanto do homem de Uruguaiana quanto de Assange, é que os dois falam de coisas que todo mundo sabe ou que não importa mais saber. Assange dá detalhes, mas suas denúncias vão se esgotando. Uma das últimas do WikiLeaks: o senador Heráclito Fortes, do DEM, alertou os Estados Unidos sobre uma conspiração iraniana-russa-venezuelana na América Latina. E agora, Obama? Outra: um ex-executivo de um banco suíço entregou ao site quilos de documentos sobre rolos em 1,2 mil contas de ricaços, políticos e mafiosos. Vão falar de novo das contas do Maluf?

Também se anuncia que Assange finalmente revelará documentos sobre o regime chinês. O que poderá comover quando se sabe quase tudo sobre o comunismo mal pago a serviço das grandes grifes mundiais? O WikiLeaks só irá surpreender se provar que Mao de fato é eterno e, aos 119 anos, vive com 36 mulheres e 526 filhos como artesão de enfeites de palha de arroz num vilarejo perto de Pequim. E que promete voltar.

É decepcionante ver que até alertas do Heráclito Fortes ganham manchete no WikiLeaks. Desviei meu interesse para outro site menos espetaculoso. Agora, sou frequentador do portal do Tribunal de Contas do Estado. Hoje, qualquer movimento em falso de gestores públicos vai parar no site. O TCE estabeleceu conexão direta, online, com as prefeituras. Se um prefeito abriu licitação para comprar vassouras, sabe-se quanto vai pagar. Se tem rolo, o TCE descobre e o site conta.

Dia desses tomei café com o conselheiro Cezar Miola, vice-presidente do TCE. É o Assange do tribunal. Defende o site (www.tce.rs.gov.br) como o australiano vigia sua trincheira. Essa é de Miola: as pessoas pensam que políticos podem eventualmente se apropriar apenas de patrimônio físico público; não, eles se apropriam também da informação. O TCE quebrou a lógica dos “segredos públicos”.

Assange obtém documentos vazados por meios controversos. O tribunal só vai atrás do que a lei determina. Olhar o site de vez em quando deveria ser da rotina de quem reclama por cidadania e por coisas do bem. O portal tem espaço para denúncias. Expõe processos em andamento. O TCE tem até uma rádio para transmitir suas sessões. É mais interessante do que uma denúncia do Heráclito e tem mais utilidade.

Enquanto você espera pela nova revelação de Assange, passe no portal gaúcho. Chegará o dia em que todo cidadão irá clicar ali uma vez por semana pelo menos, depois de entrar no facebook? O portal meterá medo nos homens públicos tanto quanto a invenção de Assange promete assustar os poderosos globais? Espie e abasteça o WikiLeaks de Miola, porque o de Assange anda meio devagar.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Sigamos a orientação do Moisés Mendes, autor deste artigo. Vamos espiar e abastecer com conhecimento das falcatruas as nossas armas democráticas e exigir do Tribunais de Contas e do Poder Judiciário processos e penas contra os autores das ilicitudes. Caso contrário, o tempo desmotiva e desmobiliza os fiscais, ficando os ímprobos livres, leves e soltos para continuarem sagrando os cofres públicos e a confiança do povo no Estado democrático de direito.

3 comentários:

Anônimo disse...

Totalmente ingênuo o enfoque dado por Moisés Mendes. No site do TCE há apenas a prestação de contas de prefeituras, nada mais. Acrescentar o que? Não é WikiLeaks gaúcho nem aqui nem na China. Imaginem o Assange se baseando em informações de sites de prefeituras e governos estaduais e nacionais? Da onde tiraram esta ideia sem pé nem cabeça?

Jorge Bengochea disse...

Tenho que concordar com o Anônimo, pois o TCE RS é um poder que gera ainda muita desconfiança devido a forma de nomeação dos conselheiros, a forte influência política que mina os bastidores, os exemplos de impunidade dos autores de ilicitudes, o desrespeito ao teto e as denúncias sobre atos de corrupção e de improbidade até agora não julgadas.

Gastão Muri disse...

Caro Jorge Bengochea
Leia o que escrevo sobre o artigo "O WikiLeaks gaúcho" no blog www.gastaomuri.com ("Blog do Gastão" na pesquisa do Google)
obrigado pela sua atenção